Covid-19: novo estudo revela mortalidade de 50% entre hospitalizados no Norte

Hospital Platão Araújo, entre os pacientes, um cadáver envolto em plástico. Foto: Jonne Roriz/VEJA
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As cruéis barreiras no acesso à saúde no Norte do país se mostraram nessa semana através de depoimentos desesperados de profissionais e moradores de uma de suas maiores capitais, Manaus, onde faltaram cilindros de oxigênio para o tratamento da covid-19 e de outras doenças.

Agora, as fragilidades do sistema de saúde da região foram demonstrados em dados inéditos, publicados na noite desta sexta-feira (15/01) no periódico científico internacional Lancet Respiratory Medicine.

O estudo, uma colaboração entre pesquisadores de instituições brasileiras e estrangeiras, analisou informações sobre os primeiros 250 mil pacientes hospitalizados com covid-19 em todo o Brasil ? destrinchando características como cor e idade, se precisaram de ventilação mecânica ou internação em Unidades de Terapia Intensiva (UTI), e a distribuição desses dados por região.

Os resultados indicaram que, apesar de a covid-19 ter esgotado o sistema de saúde em todas as regiões, a necessidade de hospitalização e mortalidade no início da pandemia foram consideravelmente maiores no Norte e no Nordeste.

É o que mostra, por exemplo, o percentual de pessoas internadas e que morreram no hospital: 50% no Norte; 48% no Nordeste; 35% no Centro-Oeste; 34% no Sudeste; e 31% no Sul.

Para o Brasil como um todo, o percentual de mortalidade por covid-19 no hospital foi de 38%, considerado “notavelmente alto” segundo os autores. O valor é semelhante ao de vários lugares do mundo, mas os pesquisadores destacam que o grupo de pacientes estudado é em média 10 anos mais jovem do que países considerados a título de comparação, o que faria supor no Brasil uma mortalidade mais baixa. Não foi o que os dados mostraram.

As disparidades regionais também se revelaram no percentual de pessoas internadas em UTIs que morreram: 79% no Norte; 66% no Nordeste; 53% no Sul; 51% no Centro-Oeste; e 49% no Sudeste.

A mortalidade entre os pacientes com menos de 60 anos também surpreendeu ? apesar das populações do Norte e do Nordeste serem mais jovens, a fatalidade entre os não-idosos foi maior nestas regiões, chegando a 31% no Nordeste, contra 15% no Sul.

Os autores oferecem possíveis explicações para as diferenças entre as regiões. Por exemplo, a chegada da doença primeiro ao Norte, Nordeste e Sudeste; e também a distribuição desigual de leitos, equipamentos e profissionais.

“O Norte e o Nordeste têm o menor número de leitos hospitalares por pessoa no Brasil. A diferença é ainda mais pronunciada quando se considera leitos de UTI: no início da pandemia, o Sudeste tinha cerca de duas vezes mais leitos de UTI por pessoa do que o Norte”, diz um trecho do estudo, que contou com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e do Instituto de Salud Carlos III.

“Além disso, leitos de UTI estão concentrados nas capitais e no litoral, gerando uma barreira adicional no acesso aos serviços de saúde, especialmente quando a covid-19 se espalhou para o interior.”

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O próprio estudo publicado na Lancet Respiratory Medicine mostrou que 54% dos pacientes analisados foram internados em hospitais nas capitais, mas isso foi mais marcante no Centro-Oeste (71%), Nordeste (70%), Norte (61%).

Mortalidade maior entre analfabetos, pretos e indígenas

A pesquisa também traz dados novos e robustos sobre as características e os quadros de saúde das centenas de milhares de pessoas internadas nos cinco primeiros meses de pandemia.

Quase metade (47%) dos 254.288 hospitalizados neste período tinha menos de 60 anos; 56% eram do sexo masculino; e 74% tinham uma ou duas comorbidades.

A proporção de mortalidade foi maior quanto menor a escolaridade: 63% entre os analfabetos; 30% entre aqueles com ensino médio, e 23% com graduação.

As fatalidades também foram mais frequentes entre os pretos e pardos (43%) e indígenas (42%), contra 40% de origem asiática e 36% brancos.

Um dos membros da equipe, o pesquisador do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas Fernando Bozza, destacou em um comunicado para a imprensa que os dados da pesquisa mostram uma soma de vulnerabilidades socioeconômicas e regionais.

“A covid-19 não afeta desproporcionalmente apenas os pacientes mais vulneráveis, mas também os sistemas de saúde mais frágeis. O sistema de saúde brasileiro (o SUS) é um dos maiores do mundo a fornecer assistência a todos sem custos, e tem uma sólida tradição de vigilância de doenças infecciosas. Entretanto, a covid-19 sobrecarregou o capacidade do sistema”, declarou Bozza.

Primeiro autor do estudo, o epidemiologista Otavio Ranzani, pesquisador do Instituto para Saúde Global de Barcelona (ISGlobal), também afirmou em comunicado que o estudo ajuda a preencher lacunas sobre a situação da pandemia em países como o Brasil.

“Até agora, há dados muito limitados sobre a mortalidade de pacientes hospitalizados com covid-19 ou sobre como sistemas de saúde lidaram com a pandemia em países de baixa e média renda”, declarou Ranzani.

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