Endividado, Barcelona tenta sair do buraco e se reconstrói para voltar às glórias

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Ausente do mata-mata da Liga dos Campeões pela primeira vez em 21 anos e somente o sexto colocado no Campeonato Espanhol, o Barcelona trabalha para se reerguer após a saída de seu grande ídolo, Lionel Messi. Esse cenário decorre, sobretudo, de sucessivos erros administrativos da gestão anterior, que abriu um rombo nas finanças e deixou uma dívida que supera 1 bilhão de euros. Hoje, ainda que continue sendo uma das maiores agremiações do mundo, o Barça tem ambições mais modestas e passa por reestruturação em diferentes níveis para poder voltar a brigar por títulos no futuro. O time da Catalunha, desacostumado com tamanho calvário, espera que os dias soturnos deem lugar à alegria das conquistas no Camp Nou.

O panorama financeiro do clube é caótico. Se fosse uma empresa, estaria falida, segundo avaliação do próprio CEO do Barcelona, Ferran Reverter, que afirmou que hoje o Barça tem “patrimônio negativo e está em situação de quebra contável, com fluxo de caixa operacional nulo e dificuldade para pagar salários”. Ele e outros membros da atual diretoria contrataram recentemente uma auditoria para avaliar as contas do clube.

O relatório mostrou que a gestão anterior, de Josep Maria Bartomeu, presidente de 2014 a 2020, aumentou a folha salarial em 61% em três anos e deixou uma dívida de 1,35 bilhão de euros (R$ 8,5 bilhões na cotação atual) até o primeiro semestre de 2021. Cabe explicar: Bartomeu oferecia benefícios extras a atletas contratados, como bônus de lealdade e prêmios por fim de contrato. O dirigente mudou a filosofia interna e tornou o clube gastador, não mais focado em revelar talentos. Não fossem os atletas negociados, a folha de pagamento chegaria a 835 milhões de euros, valor 108% acima das receitas.

O Barcelona ainda é um dos que mais arrecada no mundo, mas deixou de ganhar quase 500 milhões de euros, especialmente em virtude das consequências da pandemia de covid-19, que fechou os estádios por vários meses e impediu também que a instituição lucrasse com seu museu e suas lojas, importante fonte de receita de um clube apontado por anos como o mais rico do mundo. Para piorar, viu suas despesas aumentarem. Também houve queda no dinheiro proveniente dos direitos de televisão.

Foi necessário, diante da atual conjuntura, pegar empréstimos de emergência para aliviar o sufoco. O plano é se reorganizar até 2026. Os dirigentes entendem que a reconstrução pode ser bem-sucedida ao ponto de reerguer o clube próximo do patamar dos tempos de brilho, mas sabem que já há e haverá mais sofrimento no caminho, caso do duro revés recente por 3 a 0 para o Bayern de Munique, que nem fez força para ganhar com tranquilidade.

O Barcelona teve de abrir mão de seu maior craque, Messi, para respeitar o fair play financeiro de La Liga, negociou outros atletas importantes, como Philippe Coutinho e Antoine Griezmann, e passou a voltar em apostar em atletas formados em La Masia, as categorias de base da equipe.

“Nós queremos lutar por todos os títulos. Quando cheguei eu sabia que o Barcelona não vivia um momento bom em sua história, tanto do ponto de vista esportivo, quanto do financeiro. Mas estamos trabalhando com calma para resolver essas questões e acredito que estamos num bom caminho”, afirmou o técnico Xavi em recente entrevista com tom de conformismo, ciente da realidade oposta a de quando vestia a camisa blaugrana.

Alex Baldé, Nico González, Pablo Gavi, Yusuf Demir e, especialmente, Ansu Fati, são considerados os principais jovens pilares da reconstrução catalã. Entre os veteranos, Daniel Alves tem participação importante nesse processo. A fase do lateral-direito brasileiro e do clube com o qual ganhou 23 títulos, é parecida. Ambos já foram vitoriosos, mas estão em declínio e podem ser importantes um ao outro.

O caminho que escolheu a atual diretoria, liderada pelo presidente Joan Laporta, é correto, na opinião de Rivaldo, ex-jogador de tempos gloriosos do Barça. “É preciso fazer algum sacrifício para trazer bons jogadores sempre que possível e em bons negócios, mas eu acredito que hoje a maioria dos novos jogadores terá que vir da La Masia pois não há muita margem para investir no mercado de transferências”, opina em entrevista ao Estadão o brasileiro, campeão espanhol duas vezes pela equipe que defendeu de 1997 a 2002. Foi graças ao desempenho com a camisa do time catalão que Rivaldo alcançou o ápice de sua carreira, sendo eleito melhor do mundo em 1999.

“Vai ser preciso confiar nos jovens jogadores e emagrecer a folha salarial por algum tempo”, acrescenta. Camisa 10 do time catalão entre o fim do século passado e o início deste, ele sugere que atletas reduzam seus salários para ajudar o clube a respeitar o fair play financeiro. Isso é uma prática rara de acontecer, mas aceita pelo zagueiro francês Umtiti. O defensor aceitou reduzir seus vencimentos em renovação contratual até julho de 2026, decisão que permitiu que a diretoria inscrevesse o jovem atacante Ferrán Torres no Campeonato Espanhol.

Zagueiro do Barcelona de 2004 a 2008, Edmilson também entende que não há muito a ser feito senão confiar e investir na base no atual momento. “Todos lá estão conscientes de que esse é o caminho para fazer uma reviravolta nesse momento”, diz o ex-jogador, hoje embaixador das escolinhas de futebol do Barcelona. Por outro lado, ele crê que é necessário – e possível – voltar a ter um craque que seja capaz de “impulsionar o marketing e aumentar a receita com venda de camisas”.

Quanto à arrecadação com marketing, uma alternativa, analisa Felipe Soalheiro, diretor da agência SportBiz Consulting, especializada em marketing esportivo, é intensificar o investimento no mercado de criptoativo, com seu fan token. “A marca Barcelona ainda possui grande valor, e o caminho mais curto para alavancar receitas de marketing globalmente é expandindo seu programa de licenciamento de produtos físicos e digitais, como NFTs que explorem a riquíssima história do clube”.

Ainda que o momento não seja de glórias, os ex-atletas que conhecem e fizeram parte da história vitoriosa do clube catalão são otimistas.”O Barça pode voltar a ser competitivo também dentro de uma normalidade. Se o mundo voltar ao normal logo, já vai começar a melhorar e devagar vai se reestruturando”, acredita Edmilson. “Em algum momento o Barcelona vai voltar a ser aquele Barcelona que todos conhecem”, confia Rivaldo.

 

 

Estadão Conteúdo*

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