Um artigo com participação da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Ficocruz) avaliou a presença da Ag total e de AgNP em máscaras produzidas para proteger a população da Covid-19 que estão sendo comercializadas no Brasil durante a pandemia. O artigo Avaliação da qualidade das máscaras comercializadas no Brasil em tempos de pandemia da Covid-19 quanto à presença de prata e de nanopartículas de prata, de autoria de Cristiane Barata-Silva, Santos Alves Vicentini-Neto, Carolina Duque Magalhães, Silvana do Couto Jacob e Lisia Maria Gobbo Santose foi publicado na revista Visa em Debate.
Segundo o artigo, as medidas mais eficazes de evitar contaminação se baseiam em impedir a propagação do vírus de pessoa para pessoa através do isolamento ou distanciamento social. Além disso, os órgãos competentes na área da saúde recomendam o uso de máscaras que pode contribuir para diminuir a propagação dessa doença em larga escala, objetivando uma proteção coletiva. “A máscara funciona como uma barreira física, diminuindo a contaminação do vírus por meio de respingos de espirros ou tosses, além de evitar a contaminação mão-boca”.
Em função disso, continua o artigo, a indústria têxtil está investindo em tecidos com atividade antimicrobiana, utilizando a prata (Ag) que é um elemento natural e com características físico-química, óptica e biológica únicas. Além disso, a Ag é bem conhecida pela sua forte toxicidade para uma vasta gama de microrganismos. “Atualmente a Ag vem sendo adicionada a vários produtos de consumo, incluindo roupas, geladeiras e máquinas de lavar para desodorizar ou higienizar, embalagens plásticas para armazenar alimentos e, também, na água potável para fins desinfetantes, sem nenhum dano à saúde ainda descrito.”
Entretanto, alertam os pesquisadores, a forma como a Ag está presente nesses produtos é relevante. A forma iônica da Ag exibe atividade bactericida pela inibição de uma série de processos biológicos de bactérias, principalmente, Gram-negativas e vem sendo usada há muito tempo sem apresentar atividade carcinogênica ou mutagênica nos seres vivos. Porém, advertem, esse íon tem baixa estabilidade pois tende a reagir com ânions como CI, HS e SO em água, formando precipitados que diminuem sua atividade biocida.
O estudo promoveu o desenvolvimento e a validação de metodologia de análise de tecido, assim como a definição da melhor forma de preparo dessas amostras contendo AgNP. A partir dos resultados obtidos, os pesquisadores verificaram a diversidade quanto à quantidade de Ag, o que levanta um questionamento da eficácia dessas máscaras no combate à Covid-19, uma vez que não se tem um valor mínimo preconizado da concentração de Ag para que se tenha eficácia de 99,9% contra o vírus.
O artigo afirma, ainda, que as pesquisas na área de vigilância sanitária assumem um papel importante na resposta às emergências sanitárias, sobretudo aqueles aplicáveis a novos produtos que possam ser utilizados no combate às doenças e prevenir riscos futuros. “Sendo assim, há a necessidade de estabelecer os requisitos mínimos de composição e qualidade desses produtos por órgãos competentes de regulação e fiscalização, frente a atual oferta e demanda dos produtos contendo AgNP no mercado nacional”. Por fim, alerta que estas carências legislativa e fiscalizatória acabam expondo a população a um elevado risco sanitário e podem ocasionar um problema de saúde pública.
*Fonte: Fiocruz