O Estudo da Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz – analisou os impactos da contaminação por mercúrio em três importantes aldeias do território Munduruku no Pará. Lá, o mercúrio é amplamente usado para a extração de ouro nos garimpos dentro e fora do território, contaminando as águas e os peixes, que são consumidos pela população local, provocando problemas neurológicos, sensitivos e motores.
O projeto se deu na Terra Indígena (TI) Sawré Muybu, situada no médio rio Tapajós, nos municípios de Itaituba e Trairão, no Pará. A coleta de dados ocorreu entre 29 de outubro e 9 de novembro de 2019, em três aldeias impactadas pelo garimpo: Sawré Muybu, Poxo Muybu e Sawré Aboy. Os resultados apontam evidências claras dos efeitos deletérios da contaminação por mercúrio nas três aldeias Munduruku – e indicam que a atividade garimpeira vem promovendo alterações de grande escala no uso do solo nos territórios tradicionais da Amazônia, com impactos socioambientais diretos e indiretos para as populações locais, incluindo prejuízos à segurança alimentar, à economia local, à saúde das pessoas e aos serviços ecossistêmicos.
Segundo o estudo da Fiocruz, todos os 200 indígenas avaliados em maior ou menor grau apresentavam traços de mercúrio no organismo. Em 57, 9% dos indivíduos, os níveis de contaminação estão bem acima dos limites considerados como seguros. Quatro em cada dez crianças menores de 5 anos apresentaram altas concentrações do metal, o que chamou a atenção dos pesquisadores, uma vez que o mercúrio afeta o Sistema Nervoso Central, que está em desenvolvimento no caso das crianças até essa idade Outro ponto preocupante é que o mercúrio também atinge o cérebro dos fetos ainda em formação no útero materno.
Considerando que a análise do pescado revelou a presença de mercúrio em todas as amostras coletadas, além de impactar a saúde dos rios e florestas, a atividade garimpeira na bacia do Tapajós muda a relação dos Mundurukus com o seu habitat natural, já que o peixe, principal fonte de proteína da alimentação destes povos está completamente comprometido.
O estudo e a nota técnica estão disponíveis nas plataformas da Fiocruz , no Grupo de pesquisa “Ambiente, Diversidade e Saúde” sob a responsabilidade dos pesquisadores Paulo Cesar Basta e Sandra de Souza Hacon.
Em uma apresentação feita em Santarém , no auditório do Ministério Público do Estado do Pará (MPPA), o pesquisador Paulo Basta e sua equipe recomendaram , diante dos resultados dos estudos, a interrupção imediata das atividades garimpeiras em terras indígenas afetadas pela mineração ilegal e o desenvolvimento de um plano de descontinuidade do uso do mercúrio na mineração artesanal de ouro em todo o país. Os pesquisadores da Fiocruz ainda recomendam um trabalho de orientações à população das áreas afetadas, além da inclusão de testagem dos níveis de mercúrio na rotina dos programas de atenção pré-natal e de acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).