Médicos alemães relatam ameaças de negacionistas antivacinas

Protesto contra medidas anticovid em Berlim, em abril do ano passado Foto: DW / Deutsche Welle
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Profissionais afirmam ser alvo de ataques verbais de pacientes contrários a vacinas contra a covid-19 e cartas anônimas agressivas. Mensagens incluem desejo de que médicos sejam punidos e até fuzilados.Organizações de médicos na Alemanha contatadas pela DW na última semana relataram que muitas clínicas têm enfrentado uma atmosfera agressiva por conta de ameaças de negacionistas antivacinas e tensão entre funcionários e pacientes, enquanto a pandemia de covid-19 atinge taxas de infecção inéditas no país.

Nesta segunda-feira (15/11), a Alemanha bateu seu recorde da taxa de incidência da doença desde o início da pandemia, com 303 novos casos por 100 mil pessoas nos último sete dias. Na quinta-feira passada, o país registrou o maior número de novos casos em todo o mundo, com 50.377 pessoas com teste positivo.

Um dos cenários mais preocupantes está no estado da Saxônia, no leste alemão, que tem a maior taxa de incidência do país, de 754 por 100 mil habitantes, e a menor taxa de vacinação, com apenas 57,5% da população do estado totalmente vacinada. Em toda a Alemanha, 67,5% da população está atualmente vacinada.

“A agressividade e o extremismo entre as pessoas piorou significativamente”, disse o clínico geral Erik Bodendieck, presidente da Associação Médica da Saxônia. “Alguns médicos chegaram a receber ameaças de morte.”

Bodendieck disse que ele próprio acostumou-se a receber ameaças por conta de seu papel público como presidente da associação. “São e-mails nos quais sou atacado pessoalmente, nos quais sou ameaçado de sofrer processos”, disse ele à DW. “E há cartas que dizem coisas como: ‘Vocês todos deveriam estar na frente de um pelotão de fuzilamento’. Esse tipo de coisa.”

“Ontem defendi a vacinação obrigatória e, apesar de todo o apoio em redes sociais, tenho certeza de que os opositores da vacina irão atacar novamente”, acrescentou. Ele teme que alguns médicos da Saxônia possam até decidir não aplicar vacinas contra a covid-19 em parte por causa dessas ameaças.

Pacientes ríspidos, funcionários desgastados

Ulrike Schramm-Häder, porta-voz da Associação Médica da Turíngia, disse que 25 médicos relataram ter recebido cartas com ameaças. “As cartas dizem principalmente que as vacinas são perigosas e acusam os médicos de realizar experimentos humanos”, disse ela à DW.

Schramm-Häder, que recebeu ela mesma uma dessas cartas apesar de não aplicar vacinas, disse que os remetentes vez ou outra enveredam em teorias da conspiração e falam de forças ocultas que controlariam o governo federal. “Mas também há pessoas que apenas rejeitam todas as medidas destinadas a proteger contra o coronavírus. E elas fazem algum esforço, pesquisam os nomes e endereços dos médicos.”

Não se trata apenas de cartas de ódio anônimas. A atmosfera do cotidiano em muitas clínicas ficou mais tensa. A Associação Médica da Turíngia realizou uma conferência em setembro, na qual vários médicos relataram ter recebido pacientes agressivos em seus consultórios. “Às vezes os pacientes reagem muito agressivamente a perguntas normais, como sobre seu estado de vacinação. Isso é apenas algo que os médicos precisam saber”, disse Schramm-Häder.

Alguns médicos decidem mover processos ou entregar as cartas ameaçadoras à polícia, e outros simplesmente descartam as mensagens. Como muitas associações médicas na Alemanha, a entidade da Turíngia divulgou uma declaração que condena esse comportamento, enfatiza a importância de medidas contra o coronavírus e diz que os médicos são responsáveis pela saúde de seus funcionários e de outros pacientes que aguardam na sala de espera.

Motivação apesar de agressões e ameaças

Poucas associações médicas contatadas pela DW tinham dados concretos sobre o número de ameaças, mas muitas, como as de Berlim e da Baixa Saxônia, notaram um tom mais duro por parte de pacientes. O cansaço com a pandemia, tanto entre os pacientes quanto entre os funcionários, está se instalando, disse um porta-voz da Associação Médica do Estado de Berlim: “Os nervos estão desgastados em ambos os lados.”

Berlim é onde ocorreu, em outubro, um dos casos mais drásticos. Uma clínica que aplica vacinas foi forçada a fechar as portas por vários dias e contratar segurança privada porque as ameaças anônimas eram consideradas graves. A associação disse que a identidade da clínica estava sob sigilo e que os médicos não queriam fazer comentários públicos para evitar uma nova escalada de tensões.

As ameaças tornaram-se rotina, especialmente para médicos que usam redes sociais para apoiar ativamente as vacinas. Thomas Spieker, porta-voz da Associação Médica da Baixa Saxônia, diz que a equipe médica da linha de frente tem que suportar o peso de um debate público cada vez mais emotivo sobre medidas e vacinas contra o coronavírus, e isso está pressionando o sistema de saúde como um todo.

“Às vezes as pessoas parecem confundir o médico com uma autoridade que define políticas públicas”, disse ele à DW. “Todos os dias, desde o início da pandemia, os médicos e seus funcionários estão no fogo cruzado, arriscando a sua própria saúde. Claro que isso também atrapalha a forma como outras doenças estão sendo tratadas.”

Mas Wolfgang Kreischer, presidente da associação de clínicos gerais de Berlim e Brandemburgo, não se deixa intimidar. Ele também recebeu cartas ameaçadoras anônimas e teve experiências desagradáveis no trabalho, e uma paciente chegou a dizer que “ela esperava que todos nós fossemos punidos” por oferecer vacinas.

Kreischer também notou pacientes que chegam para se vacinar porque sentem que são forçados a fazer isso e estão irritados. “Eles não querem nenhuma informação sobre as vacinas, só querem ser vacinados e ir embora, e você pode ver que eles só estão fazendo isso agora por causa da pressão”, disse.

Ele menciona ainda o caso de uma médica que deixou de aplicar vacinas porque o carimbo de seu consultório foi falsificado e usado de forma fraudulenta em comprovantes de vacinação. “Toda vez que ela recebe um informe de que o carimbo está sendo usado, ela tem que enviar uma declaração à polícia”, disse. “Isso se tornou muito trabalhoso para ela.”

Mas, apesar das ameaças, Kreischer insiste que ele e sua equipe permanecem “muito motivados” e planejam continuar aplicando vacinas. “A maioria dos pacientes está muito agradecida por ter sido vacinada”, disse.

Deutsche Welle

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