O solo sob floresta amazônica “não perturbada” está emitindo carbono, uma descoberta feita no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e publicada em 07 de novembro na revista Soil Science Society of America Journal por Henrique Seixas Barros e Philip M. Fearnside (http://doi.org/10.2136/sssaj2018.12.0489).
As implicações são substanciais. Manter as temperaturas globais dentro dos limites acertados no Acordo de Paris de 2015 é essencial para evitar consequências catastróficas em todo o mundo, e permanecer dentro desses limites exige manter a carga de gases de efeito estufa na atmosfera abaixo de um determinado nível, independentemente de como os gases foram emitidos.
Os esforços de mitigação do mundo precisam compensar todos os aumentos de emissões, não apenas os gases que são deliberadamente emitidos por seres humanos. Para que a soma dos compromissos nacionais de mitigação atinja esse objetivo, os compromissos devem se basear em dados que exijam a identificação e quantificação de todas as emissões e captações de gases de efeito estufa.
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Estas incluem emissões “indiretas”, como incêndios florestais e o degelo da tundra. Agora, há mais uma: o solo sob a floresta amazônica.
O aquecimento do clima pode causar a liberação de estoques de carbono nos solos, mas faltavam observações diretas nos solos das florestas tropicais. Um conjunto de dados sem igual que foi coletado no Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais, do INPA e a Instituição Smithsonian, permite a comparação de amostras colhidas antes e depois de um período de 28 anos em 176 parcelas em floresta não perturbada (floresta intacta, sem sinal visível de ação humana moderna e localizada mais de 100 m de uma borda da floresta, com 98% das parcelas sendo mais de 300 m de uma borda).
Os dados indicam uma perda significativa de carbono nos 20 cm superiores do solo (2,98 toneladas por hectare ao longo de 28 anos, uma média de 0,11 toneladas por hectare por ano ou 0,3828% ao ano do estoque de carbono). As emissões de carbono seriam substanciais se o padrão observado para os 20 cm superiores desse local perto de Manaus se mantiver em toda a Amazônia, e as implicações são enormes se o mesmo padrão ocorrer para as camadas mais profundas do solo.
Considerando apenas a porção brasileira da Amazônia (aproximadamente dois terços do total), as emissões anuais dos 20 cm superiores do solo seriam 80 milhões de toneladas de carbono (293 milhões de toneladas de CO2), enquanto se a mesma porcentagem de emissão se aplicar ao primeiro metro do solo, isto implica na emissão anual de 180 milhões de toneladas de carbono (660 milhões de toneladas de CO2). Há muito mais carbono abaixo de 1 m de profundidade que poderia ser liberada futuramente.
A liberação de carbono do solo pode contribuir para um circulo vicioso em que as emissões causam maior aquecimento que aumenta ainda mais as emissões. Devido aos enormes estoques de carbono na Amazônia, as potenciais emissões dessa região são uma preocupação importante na avaliação de quando a trajetória do aquecimento global passaria de um “ponto de inflexão” climático, após o qual as emissões escapariam do controle humano e levariam a uma “estufa descontrolada”, terminando em uma “Terra estufa”.
Mais informações em: http://philip.inpa.gov.br