Queimadas na Amazônia são 3 vezes mais comuns em áreas próximas a frigoríficos

A queimada na Amazônia. Crédito: Ria Sopala, por Pixabay
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As queimadas na Amazônia em 2019 foram detectadas com mais frequência nas regiões produtoras de gado próximas a frigoríficos do que no restante da floresta. Imagens de satélites analisadas pelo Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) revelam que os incêndios na região ocorreram três vezes mais nas áreas dedicadas à produção de carne de boi.
Há dois anos, a ONG brasileira Imazon identificou 128 matadouros em toda a Amazônia e passou a coletar dados para estabelecer as áreas onde essas empresas compram o gado. Por meio de entrevistas com funcionários dos frigoríficos, a equipe de pesquisa determinou a distância máxima que cada empresa percorreria para comprar os animais.
Esses dados foram ajustados para considerar fatores locais, como estradas, rios navegáveis ​​e padrões climáticos, e, assim, delimitar a área potencial máxima de compra de cada frigorífico. São regiões extensas, de centenas de quilômetros quadrados, nas quais diferentes empresas atuam frequentemente de forma simultânea. Em seu conjunto, os dados revelam as áreas da Amazônia onde há criação de gado para produção de carne bovina.
Usando métodos elaborados pelo projeto de sustentabilidade sem fins lucrativos Chain Reaction Research, o jornal britânico The Guardian e o Bureau of Investigative Journalism mapearam os 554 mil alertas de incêndio emitidos pela Nasa na Amazônia Legal, entre julho e setembro, e descobriu que quase 376 mil (70%) estavam nas áreas de compra dos frigoríficos – apesar de essa área cobrir menos da metade da Amazônia Legal.
Gigantes do abate
Algumas das maiores empresas de carne do mundo operam na região. Mais de 250 mil alertas de incêndio ocorreram em áreas de atuação da JBS, a maior fornecedora de carne do mundo, com exportações para a Europa e o Reino Unido.
Foram emitidos também quase 80 mil alertas de incêndio nas prováveis zonas de compra da Marfrig, a terceira maior exportadora brasileira de carne bovina, além de 66 mil alertas próximos a abatedouros da Minerva. Segundo o Imazon, esses três frigoríficos dominam a Amazônia brasileira e respondem por quase metade do gado abatido na região.
JBS, Marfrig e Minerva afirmaram à reportagem que estão comprometidas com cadeias de fornecimento de carne onde haja “desmatamento zero” e que monitoram seus fornecedores para garantir isso.
“Essa conclusão teórica baseada em estimativas é enganosa e não representa uma relação de causa e efeito”, disse um porta-voz da JBS. “A JBS está trabalhando ativamente para reunir outros executivos e empresas importantes visando a preservação da Amazônia”, continuou.
“Se identificarmos fazendas descumprindo nossas políticas de abastecimento sustentável por qualquer motivo, incluindo o desmatamento, elas serão excluídas de nossa cadeia de fornecimento. Não estamos envolvidos e não toleramos a destruição da Amazônia”, disse a empresa, em nota.
A Marfrig declarou que bloqueou todas as fazendas envolvidas em desmatamento e começou a monitorar os focos de incêndio em agosto deste ano. “Sempre que se identifica qualquer sobreposição de áreas entre as propriedades e os focos de incêndio, há um alerta para que a compra seja reavaliada”, afirmou a empresa.
Para a Minerva, não há provas de que a empresa tenha comprado animais de fazendas onde ocorreram as queimadas. A empresa culpou o clima pela crise de incêndios neste ano: “Não existe conexão comprovada com as atividades do agronegócio.”
O levantamento revela também queimadas em pelo menos três fazendas conhecidas por vender gado diretamente aos matadouros da JBS. Em parceria com a Repórter Brasil, o Bureau descobriu que pelo menos uma delas exporta carne e couro em nível global.
Embora afirmem que não compram gado criado em áreas desmatadas ilegalmente, JBS, Marfrig e Minerva admitem não saber a origem de muitos animais, pois o gado é transferido com frequência entre milhares de fazendas de criação e engorda.
As empresas dizem também que não são capazes de monitorar seus fornecedores. “Atualmente, ninguém do setor consegue rastrear fornecedores indiretos”, declarou a Minerva. A Marfrig reconheceu que mais da metade do gado que abate é originário desses fornecedores indiretos.
As três empresas afirmaram ainda estar trabalhando com o governo e ONGs para resolver as falhas no monitoramento.
“Estamos trabalhando com autoridades locais, governo e o setor como um todo no sentido de obter acesso aos dados e ferramentas necessários para resolver esse problema”, disse a JBS. A Marfrig afirmou que solicita as informações de compra de gado de seus fornecedores diretos, enquanto a Minerva disse que seria necessária maior fiscalização para que a lei fosse cumprida em todas as etapas da produção.
A indústria de carne bovina é considerada uma das principais causadoras de desmatamento na região, responsável por 80% do desmatamento na Amazônia, segundo estudos da Universidade de Yale.
Preocupação global
Os incêndios na Amazônia ganharam destaque mundial neste ano. Não há provas de que tenham sido provocados por fazendas que fornecem gado para JBS, Marfrig ou Minerva, nem de que tenham sido causados por elas, mas a quantidade de fazendas na floresta tropical pode estar contribuindo para agravar o efeito geral das queimadas iniciadas em outros lugares.
“Todo o clima local está mais seco porque há menos evaporação a partir das árvores”, disse Yavinder Malhi, professor de ciência de ecossistemas da Universidade de Oxford.
Especialistas dizem que o aumento no número de incêndios foi causado diretamente por um crescimento do desmatamento: a queima intencional de árvores cortadas meses antes, em vez de incêndios florestais aleatórios. “Depois de limpar a floresta para estabelecer uma fazenda, a matéria orgânica fica espalhada, e os fazendeiros esperam até a estação seca para queimá-la”, disse Malhi.
O desmatamento tem sido uma questão importante nas negociações sobre mudanças climáticas em Madri, na Espanha, onde ocorreu a COP 25. Grandes empresas do Reino Unido escreveram ao governo brasileiro no início de dezembro para pedir ações urgentes.
“Nossas conclusões mostram que continuam ocorrendo incêndios e desmatamento na cadeia de fornecimento da JBS, apesar das políticas e dos compromissos da empresa”, disse Marco Túlio Garcia, que coordenou a pesquisa na Chain Reaction. “É urgente que a JBS resolva esses problemas.”
Apesar disso, recentemente a JBS tirou do ar um site que permitia aos clientes pesquisar códigos de produtos em busca do nome e das coordenadas da última fazenda onde o animal esteve antes do abate. Agora, os clientes são redirecionados para outro site, que fornece apenas o nome e o município das fazendas. A decisão da empresa foi criticada por reduzir a transparência no setor.
“Devido a questões jurídicas baseadas na Lei Geral de Proteção de Dados do Brasil, a empresa limitou algumas das informações sobre terceiros publicadas em seu site. […] A JBS possui uma política de transparência consistente”, disse a empresa.
Fonte – Repórter Brasil

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