Amazônia e Cerrado registram maior área queimada desde o início do Monitor do Fogo

Vegetação nativa corresponde a 72% de tudo que queimou; fogo em florestas aumentou 167% em comparação com 2023.. Foto: © Agência Santarém
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Em 2024, Amazônia e Cerrado tiveram 17,9 e 9,7 milhões de hectares queimados, respectivamente. Essa é a maior área registrada desde 2019 quando o Monitor do Fogo, iniciativa da rede MapBiomas Fogo coordenada pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), iniciou suas medições e confirma um crescimento de 67% na área queimada na floresta amazônia, enquanto o Cerrado registrou um aumento de 91%. Somando todos os biomas, o total queimado no Brasil durante o ano passado chegou a 30,8 milhões de hectares, 79% a mais que em 2023.

 

 

 

Em 2024, a Amazônia registrou a maior área queimada dos últimos seis anos, consolidando-se como o bioma mais afetado pelas chamas no Brasil. Foram 18 milhões de hectares consumidos pelo fogo, o que representa 58% de toda a área queimada no país e um aumento de 67% em relação a 2023. Esse crescimento expressivo concentra-se, em grande parte, nas áreas queimadas no Estado do Pará, que liderou o ranking nacional com 7,3 milhões de hectares. No bioma Amazônia, a área de floresta afetada pelos incêndios superou as queimadas nas áreas destinadas ao uso agropecuário, chegando a aproximadamente 8 milhões de hectares – um volume que equivale a 44% de toda a área queimada.

 

 

 

“A floresta amazônica enfrentou um aumento significativo nas queimadas devido a uma combinação de fatores humanos e climáticos, especialmente em função do fenômeno El Niño, que teve início em meados de 2023. Essa condição reduziu as chuvas na região amazônica e intensificou o período de seca, ocasionando um solo menos úmido e uma vegetação mais vulnerável às queimadas, sejam elas acidentais ou propositalmente iniciadas. Embora a seca, por si só, não seja a causa do aumento das queimadas, ela potencializa as queimadas originadas por ação humana, como o desmatamento e a grilagem para expansão de áreas produtivas”, explica Felipe Martenexen, pesquisador do IPAM.

 

 

O fogo no Cerrado atingiu 9,7 milhões de hectares – um aumento de 91% em relação a 2023 – atingindo, sobretudo, áreas de formação savânica. As pastagens e lavouras no Cerrado, por sua vez, totalizaram 1,4 milhões de hectares queimados, 15% da área total, – um aumento de 81% em relação ao ano passado. No contexto estadual, Tocantins e Maranhão registraram as maiores concentrações de áreas queimadas, somando 4,95 milhões de hectares. Esses estados possuem territórios abrangendo tanto o bioma Amazônico quanto o Cerrado, que foram os dois biomas mais afetados pelos incêndios em 2024.

 

 

“As diferenças no perfil de áreas queimadas na Amazônia e no Cerrado refletem as particularidades ecológicas de cada bioma, influenciando as estratégias de prevenção. Na Amazônia, o fogo afetou predominantemente áreas de florestas nativas em 2024. Já no Cerrado, o fogo ocorreu principalmente em áreas de formações savânicas, que são ecossistemas adaptados ao fogo, mas que, em excesso, sofrem degradação. Essas diferenças sugerem que a Amazônia demanda esforços focados na fiscalização do desmatamento e controle de atividades ilegais, enquanto o Cerrado requer estratégias voltadas para o manejo integrado do fogo e na conservação das áreas naturais”, aponta Vera Arruda, pesquisadora do IPAM.

 

 

Além dos dois maiores biomas, 1,9 milhões de hectares foram queimados no Pantanal em 2024 – aumento de 64% em relação à média dos últimos 6 anos. A área queimada na Mata Atlântica foi 70% composta por agropecuária. O bioma teve 1 milhão de hectares atingidos pelo fogo.

 

 

Floresta em chamas

 

 

 

As formações florestais foram a formação natural mais atingida pelas chamas, com uma área atingida de 7,6 milhões de hectares em 2024 – 3,2 vezes a mais do que no ano anterior. O fogo afetou, principalmente, áreas do sudeste paraense, na fronteira do bioma amazônico com o Cerrado, e parte do Estado de Roraima.

 

 

“Chama a atenção a área afetada por incêndios florestais em 2024. Normalmente, na Amazônia, a classe de uso da terra mais afetada pelo fogo tem sido historicamente as pastagens. Em 2024 foi a primeira vez desde que começamos a monitorar a área queimada que essa lógica se inverteu. A floresta úmida passou a representar a maioria absoluta da área queimada, sem dúvida um fato preocupante visto que uma vez queimada, aumenta a vulnerabilidade e a chance dessa floresta queimar novamente”, afirma Ane Alencar diretora de Ciência do IPAM e coordenadora da iniciativa Mapbiomas Fogo.

 

 

 

Além disso, 6,7 milhões de hectares de pastagens do Brasil foram atingidos pelas chamas em 2024, um aumento de 31% em relação a 2023, e avançou principalmente sobre áreas da Amazônia, 41% dos pastos queimados no Brasil. Áreas de agricultura totalizaram 1 milhão de hectares queimados, 198% a mais do que no ano anterior.

 

 

Estados e municípios

 

 

 

Todos os estados que mais queimaram em 2024 registraram grandes avanços do fogo em 2024. Na Amazônia, ainda ressecada pelas estiagens de 2023 e 2024, Pará e Roraima aumentaram suas áreas queimadas em 87% e 66%, respectivamente. Já no Cerrado, os estados do Matopiba – fronteira agrícola composta por partes dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – responderam por 5,1 milhões de hectares queimados, um aumento de 43% em relação ao ano passado.

 

 

No Mato Grosso, que reúne Amazônia, Cerrado e Pantanal, a área queimada chegou a 6,8 milhões de hectares queimados, atingindo principalmente áreas de vegetação nativa como florestas, savanas e campos alagados, que queimaram juntos 4,7 milhões de hectares. O Estado ocupa a segunda posição na lista após um aumento de 198% na sua área afetada pelo fogo, impulsionado por secas severas, mudanças climáticas e desmatamento. A situação pode se agravar com a aprovação de uma lei estadual que reduz parte da reserva legal do bioma Amazônia de 80% para 35%, aumentando o risco de desmatamento em 5,5 milhões de hectares e comprometendo a biodiversidade, o clima e a produtividade agrícola.

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