O espetáculo Viper Paradise, da Companhia Transversal de Artes Integradas (AM), será apresentado nesta quarta, dia 2 de julho, às 20h, no Centro Cultural Sociedade de Canto Carlos Gomes, durante o Festival de Teatro do Vale do Paranhana, em Rolante, no Rio Grande do Sul. A peça integra a programação oficial do evento e traz à cena uma narrativa potente sobre sobrevivência, solidariedade e resistência em tempos sombrios da história brasileira.
Ambientada durante o período mais violento da ditadura militar, Viper Paradise se desenrola na boate de mesmo nome, local comandado por Verônica Bourbon, interpretada pelo ator Felipe Maya Jatobá, personagem que administra o espaço noturno com mão firme e coração político. A boate, vibrante e cheia de brilho durante a noite, revela-se um espaço de acolhimento, mas também de tensão e perigo quando o dia amanhece.

É nesse ambiente que chega Manu, interpretada pela atriz Nicka, uma mulher trans em situação de vulnerabilidade, resgatada das ruas por Verônica. Em sua bagagem, Manu carrega o silêncio sobre o paradeiro de seu companheiro, um fugitivo político perseguido pelo regime. A relação entre as duas se constrói entre desconfianças, afeto e cumplicidade, enquanto os riscos externos se aproximam das paredes do Viper Paradise.
“Para mim, o Viper Paradise é um marco muito especial para a Companhia Transversal de Artes Integradas. Como fundadora, ver esse espetáculo ganhar novos palcos e atravessar o país é como testemunhar o crescimento de uma história que nasceu da urgência de existir, resistir e criar. É uma obra que reúne nossas estéticas, nossos corpos e nossas memórias num espaço de celebração e crítica, ambientada numa boate dos anos 80, um lugar de refúgio e sobrevivência para muitas pessoas dissidentes”, pontua Nicka.
Retrato
O elenco traz à tona a complexidade dessas personagens marginalizadas, oferecendo ao público um retrato sensível e político das violências enfrentadas por pessoas trans e dissidentes sexuais em contextos autoritários. Ao mesmo tempo, celebra a força dessas vidas em criar estratégias de afeto, proteção e liberdade.
A trilha sonora do espetáculo é um elemento de destaque. Ela combina a potência emocional de canções interpretadas por Leny Eversong — cantora brasileira que fez carreira internacional, mas foi esquecida pela história — com os clássicos da banda ABBA, que evocam a energia dançante das noites da década de 1970. O figurino, assinado por Henrique Dias, recria com exuberância o glamour setentista, com peças que mesclam brilho, ousadia e memória.
“Trazer essa narrativa ao teatro é também trazer à luz camadas da nossa história que foram apagadas ou silenciadas. O Viper Paradise reafirma a potência de um grupo composto majoritariamente por artistas trans e travestis, ocupando a cena com dignidade, arte e complexidade. Para nós, não é apenas um espetáculo: é um grito, um sussurro, um abraço. É sobre visibilidade, mas também sobre permanência. Faz toda a diferença poder contar essa história com mais alcance, chegando a públicos diversos e ampliando os horizontes para o teatro feito pelas nossas mãos”, complementa Nicka.
Próximos passos
Após a apresentação em Rolante, o espetáculo segue sua circulação por outras cidades brasileiras. No Amazonas, estão previstas apresentações em Manaus, Manacapuru e Novo Airão — estas três últimas ainda com datas a serem confirmadas. A montagem conta com o apoio do Edital de Chamamento Público Nº 08/2024 — Fomento à Execução de Ações Culturais do Segmento Trans, que fortalece iniciativas artísticas protagonizadas por pessoas trans e travestis em todo o Brasil.
Ficha técnica
Direção e Dramaturgia: Felipe Maya Jatobá
Elenco – Felipe Maya Jatobá e Nicka
Produção – Nicka
Trilha Sonora – Felipe Maya Jatobá
Figurino e Cenografia – Henrique Dias