Janeiro Branco: maioria dos brasileiros com depressão e ansiedade não busca ajuda

Uma das barreiras mais significativas no cuidado com a saúde mental é a falta de informação e a automedicação. Foto: Freepik
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Os transtornos mentais são uma preocupação crescente no Brasil, afetando milhões de pessoas de todas as idades e classes sociais. 5,8% da população sofre de depressão, o equivalente a 11,7 milhões de brasileiros, segundo mapeamento da Organização Mundial da Saúde (OMS). O relatório ‘Depressão e outros transtornos mentais’, publicado pela entidade, coloca o país como o de maior prevalência da doença na América Latina.

Outro dado que preocupa é a ausência de atenção aos sintomas. Uma pesquisa do Instituto Cactus em parceria com a AtlasIntel revelou que 68% da população sofre com nervosismo, ansiedade e tensão, mas mais da metade (55,8%) não busca ajuda profissional. Nesse contexto, campanhas como o ‘Janeiro Branco’ têm um papel essencial na conscientização sobre saúde mental, alertando para a necessidade de romper o estigma e ampliar os cuidados, colocando em destaque a urgência de ações coordenadas em diferentes espaços de saúde.

No Brasil, as farmácias têm se consolidado como um ponto de acesso primário à saúde, especialmente em locais onde o atendimento especializado pode ser mais limitado. “As farmácias oferecem um contato inicial com a população, onde é possível identificar sintomas e orientar os pacientes a procurar profissionais especializados. Muitas vezes, apenas uma conversa pode despertar essa consciência”, destaca Jhonata Vasconcelos, supervisor farmacêutico da rede Santo Remédio.

A proximidade com a comunidade torna esses espaços estratégicos para promover o uso responsável de medicamentos, como ansiolíticos e antidepressivos, que exigem acompanhamento rigoroso. “Os medicamentos psicotrópicos podem ser extremamente eficazes no tratamento de transtornos mentais, mas precisam ser utilizados com orientação adequada para evitar riscos como dependência ou efeitos colaterais graves”, acrescenta Vasconcelos.

Falta de informação e uso indiscriminado

Uma das barreiras mais significativas no cuidado com a saúde mental é a falta de informação e a automedicação, agravada pelos sintomas físicos que mascaram muitas vezes transtornos mentais. Dores de cabeça, musculares ou problemas gastrointestinais podem ser sinais de ansiedade, ou depressão, mas acabam tratados de forma isolada.

Nessas situações, uma escuta atenta e acolhedora pode fazer a diferença. “Perguntas respeitosas e orientação podem ser um ponto de partida para ajudar o paciente a compreender que precisa de acompanhamento especializado”, explica Vasconcelos. Segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria, 96,8% dos casos de suicídio estão relacionados a transtornos mentais, o que reforça a importância de intervenções precoces e contínuas.

O ‘Janeiro Branco’ estimula ações de conscientização sobre saúde mental no início do ano, mas o cuidado emocional precisa ser tratado como prioridade ao longo de todo o calendário. Programas de educação em saúde, parcerias entre instituições e ampliação de serviços públicos são fundamentais para garantir suporte à população.

O Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece apoio gratuito e sigiloso 24 horas por dia pelo número 188 e pelo site oficial. Em Manaus, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) atendem pacientes através da rede básica de saúde, enquanto casos de urgência são direcionados ao Centro de Saúde Mental do Amazonas (CESMAM), localizado na Avenida Desembargador João Machado, no bairro Planalto.

Saúde mental como prioridade coletiva

À medida que os transtornos mentais ganham proporções alarmantes, é necessário que diferentes setores da sociedade assumam o compromisso de combater o estigma e ampliar o acesso ao cuidado adequado. O farmacêutico, assim como outros profissionais da saúde, pode ser um elo importante entre o paciente e o tratamento, mas a solução envolve educação, políticas públicas e o fortalecimento de redes de apoio.

“O mais importante é lembrar que ninguém está sozinho. Existem canais, profissionais e recursos disponíveis para ajudar, e buscar apoio é sempre o primeiro passo”, conclui Vasconcelos.

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