Queimadas aumentam em até 80 vezes a concentração de poluentes na atmosfera da Amazônia

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o MP2.5 seja inferior a 15 ug/m3, em médias de 24 horas. Foto: Arquivo pessoal
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A concentração de material particulado na atmosfera da Amazônia aumentou até 80 vezes, atingindo pico de concentração entre os dias 27 e 30 de agosto de 2024. Os dados são do monitoramento efetuado no Observatório da Torre Alta (Atto), infraestrutura científica sob a coordenação do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), unidade de pesquisa vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).

 

“É importante entender que na torre Atto as concentrações de vários poluentes aumentam bastante na estação seca comparada a estação chuvosa. O motivo desse aumento nas concentrações é a fumaça de queimadas que se espalha por toda a Amazônia. Nos arredores da torre Atto não costumam ocorrer grandes eventos de queimada, mas a torre capta a fumaça que vem de outras partes da Amazônia”, explica a pesquisadora do Atto, especialista em aerossóis e transporte de longa distância, Luciana Rizzo.

 

O complexo Atto está instalado no meio da floresta, a cerca de 150 quilômetros ao norte de Manaus (AM), na Estação Científica de Uatumã, uma área de reserva e com atmosfera intocada, distante da rota de cidades ou de atividades econômicas. O complexo é composto por três torres. A torre principal, com 325 metros de altura, está instrumentada com sensores e capta a circulação de partículas em uma zona de influência acima de 400 quilômetros. O complexo registra continuamente dados meteorológicos, químicos e biológicos para compreender melhor os processos complexos da maior floresta tropical do mundo.

 

Segundo a pesquisadora, a concentração de material particulado fino, que são as partículas em suspensão na atmosfera – denominado tecnicamente de MP2.5, aumenta todos os anos na estação seca. Enquanto na época das chuvas a concentração em média é de 1,0 ug/m3 (microgramas por metro cúbico), na estação seca varia entre 5,0 e 7,0 ug/m3.

 

Neste ano, porém, os sinais das queimadas na região amazônica começaram a ser captados na Atto em meados de julho e em quantidades superiores à média registrada para a estação seca. “Estamos observando cerca de 10 ug/m3 de MP2.5, um pouco acima da média tipicamente observada na estação seca”, descreve Rizzo.

 

Segundo a pesquisadora, em agosto foram registrados picos. Entre 10 e 15 de agosto, as concentrações médias atingiram 60 ug/m3. O número é 60 vezes mais alto do observado na estação chuvosa e ao menos dez vezes mais alto do que a média nas estações secas.

 

Entre 27 e 30 do mesmo mês houve novos registros de concentrações, com média diária de 80ug/m3. “Ainda não sabemos as causas do aumento das concentrações nesse período. Isso pode estar relacionado a um possível aumento dos focos de queimadas em toda a Amazônia, ou ainda à presença de focos de queimadas mais próximos à torre Atto. Quanto mais perto for a frente de queimadas, mais altas serão as concentrações”, explica Rizzo.

 

O monitoramento de MP 2.5 é realizado por equipamentos instalados no alto da torre. A coleta de dados é realizada a cada 30 minutos e utiliza métodos de referência recomendados por agências ambientais internacionais. Os dados são registrados automaticamente. Outros poluentes também são monitorados.

 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o MP2.5 seja inferior a 15 ug/m3, em médias de 24 horas. Altas concentrações desse material particulado podem agravar ou aumentar o risco de desenvolver doenças cardiorrespiratórias. O impacto pode ser maior em áreas urbanas, onde a fumaça das queimadas se soma às emissões de veículos e de outras atividades. Para a floresta, a concentração desse material pode ter impactos sobre os ecossistemas, alterando propriedades das nuvens e a quantidade de luz solar que atinge a superfície da Terra.

 

O gás das queimadas – O colombiano Santiago Botía, pesquisador associado da Atto e líder de um dos grupos de pesquisa do Instituto Max Planck de Biogeoquímica, em Jena, na Alemanha, em conjunto com sua equipe, levantou dados dos últimos 20 anos para entender a correlação entre os ventos na região e os focos de incêndio registrados por imagens de satélite. Para a avaliação, o grupo utilizou os registros de monóxido de carbono (CO), um gás associado às queimadas, da série mais longeva existente no complexo.

 

Botía explica que o Atto consegue captar sinais de emissões dos estados do Amapá, Amazonas e Pará, uma zona de influência que pode chegar a até 1mil km de distância em linha reta e, por conta da direção do vento, os equipamentos conseguem captam os sinais das queimadas.

 

Em outubro de 2023, o Atto registrou o número mais alto de monóxido de carbono, que atingiu cerca de 3 mil ppb (partes por bilhão). Para ter um comparativo, nos meses de abril e maio, que integram o período chuvoso, o número varia entre 80 e 100 ppb.

 

“Da perspectiva atmosférica, a estação é sensível e consegue ver as mudanças em regiões que não estão próximas da Atto. Isso não acontecia antes”, explica Botía sobre a concentração de gases ao longo do tempo. A análise dos 20 anos de dados indica uma tendência positiva. “Se essa tendência continuar, isso quer dizer que a cada ano o número de focos de incêndio na região da ATTO está crescendo”, afirma Botía.

 

Sentinela científica da Amazônia – O coordenador científico do Atto e pesquisador do Inpa, Carlos Alberto Quesada, destaca a importância da infraestrutura de pesquisa, um projeto desenvolvido em parceria por cientistas brasileiros e alemães, no contexto de eventos extremos cada vez mais frequentes que a Amazônia está experimentando. Ele compara a atuação do Atto com uma ‘sentinela’ científica que mede e registrando as variações na atmosfera da Amazônia, da qualidade do ar e da interação entre a floresta e a atmosfera. “Essa sentinela se torna cada vez mais importante à medida que registra de como esses eventos afetam a atmosfera e como afeta vários processos”, avalia sobre o coordenador.

 

 

INPA

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