Considerada como um dos maiores festivais do Brasil e o mais importante evento audiovisual sul-americano, dedicado a temas socioambientais, a Mostra Ecofalante de Cinema chega na Bahia trazendo filmes inéditos, debates e ações educativas.
Entre as principais atrações, filmes premiados internacionalmente, títulos assinados por prestigiados cineastas brasileiros, longas-metragens inéditos no país, obras da “mãe do cinema africano” Sarah Maldoror, debates com ativistas, cineastas e especialistas, sessões para estudantes e para o público infantil.
A Mostra Ecofalante de Cinema – Bahia 2023 acontece de 12 a 23 de abril no Cine Metha – Glauber Rocha, Sala Walter da Silveira e mais 17 espaços culturais e educacionais na cidade de Salvador, com entrada franca.
Exibindo um total de 33 filmes, representando 16 países, o festival promove, também, projeções em 19 espaços culturais e educacionais da cidade.
Na sessão de abertura para convidados, em 12 de abril, a atração é o longa-metragem paulista “A Invenção do Outro”, de Bruno Jorge, que retrata a expedição comandada pelo indigenista Bruno Pereira na Amazônia para encontrar e estabelecer o primeiro contato com um grupo de indígenas isolados da etnia dos Korubo.
O filme conquistou, no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, os prêmios de melhor filme, fotografia, montagem e edição de som. A cerimônia de abertura contará com a participação dos cineastas Bruno Jorge, Aurélio Michiles e Jorge Bodanzky, que também estarão presentes em sessões de seus filmes durante o evento.
Alguns dos mais prestigiados cineastas brasileiros têm suas mais recentes realizações incluídas na programação. “Amazônia, A Nova Minamata?”, do consagrado diretor Jorge Bodanzky, acompanha a saga do povo Munduruku para conter o impacto destrutivo do garimpo de ouro em seu território ancestral. De Vincent Carelli e Tatiana “Tita” Almeida, “Adeus, Capitão” tem registros colhidos ao longo de várias décadas sobre um líder do povo indígena Gavião e encerra uma trilogia de filmes iniciada com o premiado “Corumbiara”.
Vencedor do Prêmio APCA de melhor longa-metragem do ano, “Segredos do Putumayo”, de Aurélio Michiles, recupera uma investigação sobre as denúncias de crimes contra comunidades indígenas cometidos na selva amazônica pela empresa britânica Peruvian Amazon Company. A produção brasileira inédita “Vento na Fronteira”, de Laura Faerman e Marina Weis, também trata da questão indígena. O filme mostra a luta do povo Guarani-Kaiowá pelas suas terras, na região do Mato Grosso do Sul, que são objeto de disputa de grandes proprietários rurais.
O evento também traz dez filmes internacionais inéditos no Brasil, como a produção norte-americana “Nação Lakota Contra os Estados Unidos” (direção de Jesse Short Bull e Laura Tomaselli); o belga “Amianto: Crônica de um Desastre Anunciado” (de Marie-Anne Mengeot e Nina Toussaint); o francês “Amor e Luta em Tempos de Capitalismo”, que tem como protagonista o casal de sociólogos Michel Pinçon e Monique Pinçon-Charlot; os britânicos “A Máquina do Petróleo” (de Emma Davie) e “Uma História de Ossos” (de Joseph Curran e Dominic Aubrey de Vere); a coprodução EUA/Filipinas/Reino Unido/Austrália/Hong Kong “Delikado” (dirigida por Karl Malakunas), que venceu o Prêmio Futuro Sustentável no Festival de Sydney; entre outros.
Questões ligadas à negritude e ao racismo estão presentes em diversos títulos da Mostra Ecofalante de Cinema – Bahia 2023.
Merece destaque a exibição de dois títulos assinados por Sarah Maldoror, a primeira mulher negra a dirigir um longa-metragem na África e considerada “a mãe do cinema africano”. Sarah Maldoror (1929-2020) tem sua filmografia, composta por mais de 40 obras, reverenciada como exemplo de cinema militante.
Na programação está “Sambizanga” (1972), longa-metragem duplamente premiado no Festival de Berlim, que é exibido em cópia restaurada sob os auspícios da Film Foundation, entidade voltada à preservação de filmes criada pelo diretor Martin Scorsese.
A obra focaliza a figura de Domingos Xavier, operário angolano e ativista anticolonial que foi preso e torturado até à morte, em 1961, pela polícia política portuguesa.
Já em “Uma Sobremesa para Constance”, produção de 1980, Maldoror utiliza a comédia para tratar do tema da imigração africana e do racismo em território francês, num momento em que este assunto começava a ganhar amplitude e seu enfrentamento tornava-se incontornável.
Por sua vez, “Diálogos com Ruth de Souza” refaz a trajetória pioneira dessa atriz que enfrentou o racismo e abriu portas para outras atrizes negras no teatro, televisão e cinema no Brasil, a partir de materiais de arquivo e de conversas com a diretora da obra, Juliana Vicente (de “Racionais: Das Ruas de SP pro Mundo”).
Já “Exu e o Universo”, de Thiago Zanato, foi vencedor do prêmio de melhor documentário no Festival do Rio e do prêmio do público para documentário brasileiro na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. O filme ajuda a entender como Exu, divindade das religiões de matriz africana, começou a ser visto como o diabo no Brasil.
A programação completa está disponível neste site: www.ecofalante.org.br