O carnavalesco Leandro Vieira, que levou a Mangueira ao título de campeã do carnaval carioca este ano, decidiu adaptar o samba clássico da Imperatriz Leopoldinense O teu cabelo não nega (só dá Lalá), de 1981, por considerá-lo racista. A informação é do jornalista Ancelmo Gois, de O Globo.
Vieira, no que vem, além de fazer o desfile da Verde e Rosa no Grupo Especial, também representará a Imperatriz, na Série A. Para esta escola, o carnavalesco recuperará o enredo que, em 1981, homenageou o compositor Lamartine Babo, autor da marchinha O teu cabelo não nega, cuja letra (O teu cabelo não nega, mulata / Porque és mulata na cor / Mas como a cor não pega, mulata/ Mulata, eu quero o teu amor) é muito criticada pelo movimento negro e chegou a ser tirada do repertório de vários blocos nos últimos carnavais.
De acordo com Góis, o enredo da Imperatriz será rebatizado para apenas Só dá Lalá, sem referência à marchinha famosa.
Leandro Vieira é conhecido por tratar de questões raciais em seus projetos e pelo forte posicionamento político. No enredo que deu o título à Mangueira este ano, o carnavalesco homenageou mulheres negras brasileiras, como Dandara, uma das heróínas da luta contra a escravidão; Luíza Mahin, mãe do poeta abolicionista Luís Gama; e Marielle Franco, vereadora do Rio de Janeiro assassinada em março de 2018.
Cristo periférico
No Instagram, o carnavalesco compartilhou, na semana passada, a imagem oficial da camisa da Mangueira para 2020. Nela, há uma montagem de um Cristo negro, com colagens brancas em um braço, metade do tronco e em uma perna.
“O Cristo que defini como logomarca tem a cara de qualquer uma das pessoas que sobem e descem o morro de Mangueira. Ele tá ‘longe’ daquele da cruz, mas sua feição humana é bem mais perto de nós”, escreveu Vieira.