O número de botos mortos nos lagos de Tefé e Coari, no interior do Amazonas, aumentou para 178, de acordo com um levantamento realizado pela ONG WWF-Brasil na segunda-feira (30/10). Essas mortes estão associadas à seca dos rios do estado e às altas temperaturas registradas na região.
Desde 23/09, foram registradas 155 carcaças de botos-cor-de-rosa e 23 de tucuxis no Lago Tefé e no município vizinho, segundo a líder do Grupo de Pesquisa em Mamíferos Aquáticos Amazônicos do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), a oceanógrafa Miriam Marmontel.
Miriam destacou que é a primeira vez no mundo que o calor e a crise climática causam a morte de mamíferos aquáticos dessa maneira, comparando a situação na Amazônia à que ocorre no Ártico com morsas e ursos polares.
A seca e as cheias extremas têm afetado 60 dos 62 municípios do Amazonas, levando ao estado de emergência de acordo com a Defesa Civil. Mais de 600 mil pessoas foram prejudicadas.
Os cientistas alertam que secas e inundações intensas tendem a aumentar em frequência e intensidade, especialmente na região amazônica. A oceanógrafa Miriam prevê que a situação pode piorar no próximo ano, com a expectativa de um El Niño ainda mais forte.
Cerca de 10% da população de botos do Lago Tefé foi perdida em apenas uma semana, enquanto a média de encontro de carcaças era de uma ou duas por mês. A pesquisa continua para entender a razão dessa disparidade entre as espécies mortas, com os botos-cor-de-rosa (Inia geoffrensis) representando 84,5% das mortes e os tucuxis (Sotalia fluviatilis) 15,5%. A vulnerabilidade dos botos-cor-de-rosa é atribuída a seu sistema respiratório mais frágil, mas outros fatores climáticos podem ter contribuído para essa situação.