Inpa concede título de mestre para o primeiro indígena da etnia Apurinã

Foto: Acervo / INPA
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“Governança e Gestão Ambiental dos Castanhais em Área Protegida no Sul do Amazonas”, esse é o título da dissertação de mestrado de Joedson Quintino, o primeiro indígena da etnia Apurinã a defender o título de mestre no do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI). A defesa da dissertação ocorreu nesta quinta-feira, 21. Quintino é pós-graduando do Mestrado Profissional em Gestão de Áreas Protegidas na Amazônia (MPGAP) do Inpa.

O trabalho de conclusão de curso de Quintino aborda a governança de castanhais na Terra Indígena Caititu no município de Lábrea, a 702 quilômetros de Manaus, no rio Purus. Ele  identificou os principais atores envolvidos e analisou as políticas e práticas de gestão ambiental de castanhais.

Em sua pesquisa buscou compreender como os indígenas de duas aldeias locais, as autoridades governamentais e as organizações não governamentais estão colaborando para a preservação e uso sustentável desse recurso natural.

“Esse estudo contribui para uma compreensão mais aprofundada das questões de governança e gestão ambiental em áreas protegidas na Amazônia e oferece percepções valiosas para a promoção da sustentabilidade e da conservação dos recursos naturais”, destaca o indígena.

Diante da importância da região Amazônica no combate às mudanças climáticas, Quintino aponta os castanhais como uma espécie-chave na manutenção da biodiversidade local pelo valor econômico e ambiental que possui para as comunidades locais, mas é ameaçado pela exploração irregular e a falta de governança.

Quintino ingressou no MPGAP em 2021 e foi selecionado com outros quatro indígenas, na ação afirmativa iniciada pelo programa em 2021, durante a pandemia. Bolsista pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) pelo Programa de Desenvolvimento da Pós-Graduação  (PDPG/Capes), é o primeiro a concluir o mestrado.

Oriundo da terra indígena Caititu, sobre a qual realizou o estudo, o mestrando destaca que essa relação de familiaridade foi importante e o motivou durante o período de realização do mestrado, além de possibilitar um novo olhar sobre a região da qual é originário.

“Conectar o conhecimento acadêmico com as experiências da minha região proporcionou uma compreensão mais profunda e pessoal. Isso não apenas fortaleceu minha identidade, mas também trouxe uma perspectiva valiosa às questões estudadas. A interseção entre a vivência e a teoria tornou a jornada acadêmica mais significativa e motivadora”.

Henrique Pereira, agrônomo, ecólogo, docente permanente do MPGAP, professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e atual diretor do Inpa, foi o orientador de Quintino no mestrado e destaca a vasta experiência de seu orientando com gestão e conhecimento da área estudada.

“Quintino é o 17º mestrando do MPGAP a quem eu tive o privilégio de orientar e o primeiro indígena. Além de sua formação como biólogo de graduação e sua experiência como gestor de áreas protegidas, enquanto chefe da Reserva Extrativista Ituxi, na sua pesquisa de mestrado, Joedson, como indígena e ex-gestor, pode aportar todo o seu conhecimento sobre a sua região e sua capacidade de dialogar a um só tempo com as lideranças indígenas, com organizações do terceiro setor e governamentais”, destaca Pereira.

O pós-graduando destaca que apesar do desafio, conciliar os saberes ancestrais e acadêmicos trouxe para si novos horizontes e aprendizados.  “Para o meu povo, que carrega consigo a riqueza cultural e a força da Amazônia, compartilho meu orgulho ao conquistar o título de mestre em Gestão de Áreas Protegidas da Amazônia. Que este feito seja um marco, incentivando a todos, a perseguirem seus sonhos e a preservarem nossa Amazônia querida. A vitória é de todos nós, com respeito, coragem e amor pela nossa casa comum. Que essa conquista inspire e motive outros parentes em suas jornadas”, comemora o indígena.

Sobre o Mestrado

O mestrado profissional em Gestão de Áreas Protegidas da Amazônia (MPGAP/Inpa), proposto pelo Inpa e construído em parceria com a Escola Latino americana de Áreas Protegidas (ELAP) da Universidade para a Cooperação Internacional da Costa Rica (UCI) e com apoio da Agência de Cooperação Técnica Alemã (GTZ), visa atender uma demanda crescente e urgente de qualificação de mão de obra para realizar a tarefa de cuidar destes espaços protegidos na Amazônia.


É uma modalidade de formação em nível de pós-graduação strictu sensu, que possibilita a capacitação de pessoal para a prática profissional avançada, por meio da incorporação de métodos científicos inovadores e interdisciplinares, assegurando ao aluno todos os direitos inerentes ao título de mestre, reconhecido nacionalmente pelo MEC e credenciado pela Capes. O MPGAP, em seu primeiro credenciamento, recebeu conceito 3, que é padrão para novos cursos.

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