Representantes indígenas dos nove países abrangidos pelo bioma amazônico estão tendo a oportunidade de denunciar não apenas crimes ambientais, mas também contra a humanidade durante os encontros em torno do Sínodo da Amazônia, que acontecem desde o dia 6 e terminam no próximo domingo, 27 de outubro, no Vaticano.
Segundo informações da cobertura do DW Brasil, grupos denunciam casos de tráfico de pessoas, invasões e conflitos em terras indígenas. “O papa está nos dando uma chance de sermos protagonistas aqui fora, de falarmos sobre isso e quebrar o preconceito e o racismo”, contou ao jornal Francisco Chagas, da etnia apurinã.
“Lutamos pela demarcação há 19 anos. As invasões não param: são madeireiros e caçadores, principalmente”, contou.
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“A gente sabe que a Amazônia é uma terra em disputa e que algumas críticas querem enfraquecer (o Sínodo)”, completou Zenildo Luiz Pereira da Silva, padre e reitor de um seminário em Manaus, após uma coletiva de imprensa no Vaticano nesta quarta-feira (23).
A líder indígena brasileira e ex-candidata a vice-presidente pelo PSOL, nas eleições do ano passado, Sônia Guajajara, disse à reportagem que as denúncias feitas em âmbito internacional estão ajudando a despertar a preocupação de alguns setores de dentro e de fora do Brasil.
“Em especial as alas do agronegócio que estão provocando conflitos, a indústria madeireira, que está promovendo o aumento do desmatamento que favorece a vulnerabilidades às queimadas e incêndios florestais, a mineração e garimpo ilegal e as grandes extensões de pastagens que vêm contribuindo significativamente para o aumento das mudanças climáticas”, explicou Guajajara, que também coordenadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).
Outra liderança indígena, Patricia Gualinda, do Equador, destacou que organizações da própria Igreja Católica disseram que estudam rever investimentos na Amazônia, por conta das denúncias.
“Cerca de 130 [de 700] delas se comprometeram a não permitir que dinheiro vá para fundos que apoiem projetos de mineração, petróleo, hidrelétrica ou madeira na região amazônica. Deixamos bem claro para o papa que esses tipos de negócios são os que mais ameaçam os indígenas”, destacou Gualinga que participa diretamente do Sínodo como auditora.
Outra auditoria do Sínodo, irmã Roselei Bertoldo, disse que o tema do tráfico de pessoas também está sendo abordado no encontro. “Os dados do Ministério da Justiça são muito subnotificados. E, no Brasil, quando as mulheres denunciam, muitas vezes a polícia não investiga”, disse a brasileira.
Ela contou que a Rede Um Grito pela Vida, ligada à Igreja Católica, atendeu 57 mulheres vítimas de tráfico de pessoas, entre 2012 e 2019, somente em Manaus.
“Das 20 mulheres desse grupo que aceitaram fazer denúncia junto à Polícia Federal, sete casos foram devolvidos ao Ministério Público sugerindo arquivamento. A gente sabe que, muitas vezes, a própria polícia não faz o processo de investigação dos casos”, pontuou.
Geralmente, a maior parte das vítimas são mulheres trazidas do interior do estado ou de comunidades indígenas. Algumas são meninas para trabalho escravo infantil ou exploração sexual.
“Há ainda muitos casos de casamento servil, de meninas pobres que são pedidas em casamento por estrangeiros e depois desaparecem”, contou.
Fonte: Jornal Ggn