Donald Trump tornou-se o terceiro presidente dos EUA a sofrer um impeachment, mas será o primeiro a buscar a reeleição após ser condenado pela Câmara dos Deputados. A duração, o formato e os votos do julgamento que deve chegar ao Senado em janeiro servirão como termômetro da força eleitoral do presidente – e também de suas limitações na disputa em 2020. “Todos os partidos usarão o impeachment nas eleições. Os democratas querem retratar Trump como corrupto e autoritário, enquanto os republicanos reclamam de um processo injusto. Quem se beneficiará ainda é uma questão em aberto”, afirma Darrell West, vice-presidente do Brookings Institution e autor do livro Divided Politics, Divided Nation (“Política dividida, nação dividida”, em tradução livre).
As pesquisas mostram um desânimo com o impeachment – o que beneficia Trump. Mesmo os democratas estão menos convictos de que a destituição é o melhor caminho. Quase 87% deles eram a favor do impeachment no início de dezembro, mas o número caiu para 82,8% agora, segundo o site FiveThirtyEight, que agrega pesquisas. Na média, a sociedade está dividida, com 47,5% a favor do impeachment e 46,2% contra. Há dois meses, mais de 50% apoiavam a destituição de Trump.É dado como certo que os democratas não conseguirão os 67 votos necessários no Senado, controlado pelos republicanos. Assim, não poderão afastar Trump da presidência.
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Mas ao menos 14 dos 53 senadores republicanos já manifestaram alguma preocupação com o pedido de Trump para que a Ucrânia investigasse o democrata Joe Biden, seu possível rival nas eleições de 2020, segundo o Washington Post.O governo acompanha de perto a posição de senadores republicanos eleitos em Estados-chave, buscando sinais de resistência a Trump. Um dos nomes monitorados é o de Joni Ernst, senadora de Iowa. Desde setembro, ela já adotou posições contra e a favor de Trump.Iowa é crucial para o republicano, que venceu a eleição no Estado em 2016, superando os democratas, que levaram os delegados do Estado nas duas eleições presidenciais anteriores. Também pressionada por uma disputa eleitoral polarizada, Martha McSally, do Arizona, é uma das senadoras republicanas que tem evitado posições contundentes sobre o impeachment.
Há ainda congressistas que não estão em Estados-chave, mas podem impor uma derrota à ideia da Casa Branca de sepultar o impeachment rapidamente no Senado. Parlamentares em situação vulnerável nas eleições do ano que vem tendem a pedir um julgamento completo no Senado, com testemunhas e semanas de deliberação – mesmo que, ao final, votem a favor de Trump. Isso significaria uma derrota para a estratégia de Trump de sepultar o impeachment rapidamente no Senado. O julgamento de Bill Clinton, último presidente americano a enfrentar um impeachment, levou cerca de cinco semanas. Os democratas, que aceleraram o ritmo do processo com receio de que o debate invadisse o calendário eleitoral, agora reagem à tentativa da Casa Branca de encerrar o caso mais rápido do que o previsto. A presidente da Câmara dos Deputados, a democrata Nancy Pelosi, rejeita enviar as acusações contra Trump aos senadores antes de ter a garantia de que o julgamento será justo – o que, para os democratas, se traduz em audiências e coleta de novos documentos.
A oposição quer que a Casa Branca submeta ao Senado documentos que o governo se recusou a entregar aos deputados, como informações do Departamento de Estado, do escritório responsável pelo Orçamento, e do vice-presidente Mike Pence.Debates em Washington podem limitar campanha democrataSe Pelosi enviar o impeachment de Trump ao Senado, o início das deliberações deve ocorrer na semana de 6 de janeiro, na volta do recesso de fim de ano. “É provável que o julgamento no Senado seja organizado, porque nenhum dos lados vai se beneficiar de um processo longo ou extremamente contencioso”, afirma West. Bem colocados nas pesquisas para disputar a eleição contra Trump, os senadores Elizabeth Warren e Bernie Sanders podem sair prejudicados se o debate avançar nos primeiros meses do ano. As primárias do Partido Democrata começam em 3 de fevereiro e, se os senadores estiverem presos em Washington para a votação do impeachment, terão as campanhas eleitorais limitadas.Além disso, os democratas sabem do desgaste que a pauta do impeachment representa para o partido, mas garantem que “não tinham saída” diante das revelações sobre o escândalo da Ucrânia.
Fonte: G1