A crise causada pela pandemia do novo coronavírus provocou uma fuga recorde de dólares do Brasil em março. Dados do Banco Central mostram que, até o dia 27, houve saída líquida de US$ 13,39 bilhões pelo segmento financeiro. Apesar de ainda não refletirem o movimento completo do mês passado, indicam um recorde de saídas financeiras do País para meses de março. A série histórica do BC começa em janeiro de 1982.
O resultado do segmento financeiro reflete os investimentos feitos por estrangeiros em atividades produtivas (novas fábricas e sociedades em projetos, por exemplo) e em portfólio – como aplicações em ações da Bolsa de Valores ou títulos públicos e privados. O saldo também inclui remessas de lucros e pagamentos de juros feitos por empresas ao exterior, entre outras operações.
Conheça nossos serviços
– Mentorias
– Media Training
– Digital Influencer
– Cerimonialista
– Produção de Vídeos
– Curso – Método da Rosa
Em março, em meio à pandemia, intensificou-se em todo o mundo um movimento de fly to quality (voo para a qualidade), em que investidores deixam ativos de maior risco em busca de aplicações de maior segurança.
Isso se traduziu na retirada de recursos do Brasil e de outros países emergentes em direção a outras praças. Investidores têm preferido aplicar em títulos públicos de países centrais com taxas negativas, por exemplo, a manter dinheiro no Brasil, que ainda sustentava em março um juro básico real (descontada a inflação) de 0,26%. Em comparação, a Alemanha tinha taxa real negativa de 1,75% e os EUA, menos 2,05%.
No segundo semestre de 2019 e no início de 2020, antes da pandemia, as saídas de dólares do Brasil ao exterior, no segmento financeiro, já eram consistentes, mas os motivos eram outros. No ano passado, com a Selic (a taxa básica de juros) em níveis mais baixos (4,5% ao ano em dezembro), tornou-se vantajoso para várias multinacionais pagarem dívidas no exterior e contrair novos empréstimos no Brasil.
O movimento de quitação desses compromissos lá fora – chamado de “pré-pagamento” pelo BC – levou à saída de dólares verificada no segundo semestre do ano passado.
Agora, o motivo é outro. “É o típico fluxo de saída. São investidores indo embora, ou da Bolsa, ou da renda fixa”, explica o economista Alexandre Cabral, que trabalhou por anos no mercado de câmbio brasileiro e hoje é professor do Ibmec. “É o fly to quality, com os investidores em busca dos juros americanos. Com medo de uma recessão pesada no Brasil, eles preferem enfrentar a recessão nos EUA.”
Para dar vazão a esse movimento, o BC tem realizado, quase que diariamente, leilões de venda de dólares ao mercado. Sempre que percebe uma demanda maior pela moeda americana, a autarquia entra nos negócios com oferta da moeda.
Com isso, o BC evita elevações maiores do preço do dólar ante o real ou mesmo distorções no mercado de câmbio que, no limite, podem ser prejudiciais para todo o sistema.
Os R$ 13,39 bilhões líquidos que deixaram o Brasil não chegaram a superar os US$ 19,9 bilhões vistos em dezembro do ano passado. Esta foi a maior saída da história para um único mês. Nesse caso, porém, os envios estiveram ligados ao movimento de pré-pagamento e ao fato de multinacionais e fundos, tradicionalmente, enviarem em dezembro, ao exterior, lucros e dividendos.
Enquanto muitos investidores tiraram recursos do Brasil em março, o País ainda continuou registrando um fluxo de entrada de dólares pela via comercial. Os dados do BC mostraram que, até o dia 27 , o fluxo comercial foi positivo em US$ 7,39 bilhões. O montante foi resultado de exportações de US$ 20,524 bilhões, menos importações de US$ 13,13 bilhões.
Com esses números o fluxo financeiro total – que engloba o resultado financeiro e o comercial – foi negativo em US$ 6 bilhões em março até o dia 27.
Fonte: Estadão