As eleições de 2022 trarão novos nomes política e renovarão os mandatos de outros. Porém, o Tribunal Superior Eleitoral constatou um baixo nível de engajamento em jovens de 16 e 17.
Até o fim de janeiro, 731 mil cidadãos dessa faixa etária, para a qual o voto é facultativo tinham se cadastrado como eleitores. As inscrições seguem abertas até 4 de maio, mas, hoje, esse número representa cerca de 10% dos menores de idade aptos a votar e pouco menos de um quarto do total que foi às urnas três décadas atrás.
Ações
Em 2020, o TSE promoveu, nas eleições municipais, uma campanha para que cidadãos de 15 a 25 anos gravassem vídeos com sugestões de como melhorar suas cidades. A ideia era aumentar o número de votantes menores de 18 anos que, na época, foi de 914 mil.
O voto facultativo para pessoas de 16 e 17 anos foi aprovado na Constituição de 1988, mas a Corte tem dados comparativos somente a partir de 1992, quando o total de eleitores nessa faixa etária alcançou 3,2 milhões.
No ano passado, o TSE lançou nova campanha, no rádio e na TV, de vídeos protagonizados por atores de aparência juvenil com mensagens de estímulo à participação nas eleições. Também explorou redes sociais e plataformas de áudio.
Análises
Porém, não bastou para superar fatores estruturais que, segundo analistas, têm afastado os jovens das urnas.
Questões como envelhecimento de líderes partidários, desconfiança no sistema político e falta de perspectiva de emprego e renda são apontadas como causas do encolhimento do voto jovem.
Para o cientista político da USP José Álvaro Moisés, a retórica de deslegitimação da política, usada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros candidatos em 2018, reforçou essa tendência:
“Jovens nessa idade estão na fase de serem atraídos para a política. Justamente no momento em que são convocados pelas instituições a participar, os discursos antipolítica os afastam.”.
Para Moisés, a ausência de eleitores abaixo dos 18 anos gera um “déficit democrático”. Isso significa que pautas importantes para o segmento, como inserção no mercado de trabalho e enfrentamento de mudanças climáticas, ficam em segundo plano nos projetos de governo.
“A possibilidade de novos temas e novas agendas se reduz. Há, hoje, no governo, decisões contra direitos caros aos jovens, como de escolha sexual e respeito a etnias. E vemos violentos ataques a mulheres.”
Cofundadora do instituto Update, Beatriz Della Costa também vê prejuízos ao sistema democrático. Segundo ela, isso reflete nas universidades, que perdem o papel de espaço de articulação:
“Política virou sinônimo de briga, assunto chato, que desgasta. Afasta o jovem essa sensação de guerra.”
O cientista político Marco Antônio Teixeira, da FGV-SP, vê um engajamento em queda no momento em que, segundo ele, existem mais canais de formação política. É o caso dos grupos suprapartidários e de renovação:
“Isso significa que a situação poderia estar pior. O que poderia mobilizar o jovem hoje seriam políticas de emprego e de inserção na universidade. Se participar pouco do processo decisório, sem dúvida diminui sua capacidade de pressão por políticas públicas voltadas para essa faixa etária.”
Segundo o coordenador de mobilização do Acredito, Iuri Belmino, a atuação da organização, às margens da institucionalidade político-partidária, atrai jovens insatisfeitos com as siglas.
Os motivos, afirmou Belmino, são os escândalos de corrupção, a falta de democracia interna e a manutenção de velhos caciques nas posições de comando.
Para Belmino, também é fundamental para atrair os jovens a inclusão de “conteúdos transversais”, que ensinem fundamentos políticos nas escolas:
“Não podemos esperar que essa formação venha de casa, porque a maior parte das famílias sofre com problemas muito mais urgentes.”
Fonte: CartaCapital.