No dia 28 de fevereiro, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) publicou mais um relatório sobre a necessidade urgente de ações para evitar cenários que ameacem mais ainda a vida na Terra.
Já nesta segunda (07/03), a revista Nature Climate Change publicou análises de pesquisadores sobre 25 anos de dados de satélite para avaliar a resiliência da floresta amazônica a traumas como incêndios ou secas.
Sob o impacto do aquecimento global e do desmatamento, a Amazônia está se aproximando de um “ponto de inflexão” mais rapidamente do que o esperado, o que pode transformar em savana a maior floresta tropical do mundo.
E este indicador chave da saúde geral do ecossistema amazônico caiu em mais de 75% de sua superfície e até 50% na capacidade de resiliência nos lugares mais maltratados, especialmente perto de atividades humanas ou afetadas por secas, explica à AFP Tim Lenton, da universidade britânica de Exeter, coautor do estudo.
Fatores
“Mas obviamente não é apenas a mudança climática, as pessoas estão cortando ou queimando a floresta, que é um segundo ponto de pressão”, continua Lenton.
Além da Amazônia, sistemas tão importantes para o equilíbrio planetário como as calotas polares, “permafrost” que contém enormes quantidades de metano ou CO2, recifes de coral, regime de monções do sul da Ásia ou correntes do oceano Atlântico, são ameaçados por esses “pontos de inflexão”.
De acordo com um estudo recente, a floresta amazônica brasileira, que representa 60% do total, já passou de um “sumidouro de carbono” para uma fonte líquida de carbono, liberando 20% a mais desse poderoso gás de efeito estufa do que ela absorveu.
Consequências
A transformação da bacia amazônica em savana teria, portanto, enormes consequências, tanto regional quanto globalmente, alertam os autores do estudo.
Cerca de 90 bilhões de toneladas de CO2 – o dobro das emissões globais anuais de todas as fontes combinadas – poderiam então ser liberadas na atmosfera acentuando ainda mais o aquecimento.
Regionalmente, não só a floresta sofreria: “se perdermos o papel da Amazônia no ciclo das chuvas, teremos consequências para o centro do Brasil, o coração agrícola do país”, sublinha Tim Lenton.
Chances
Para Tim Lenton, pode haver uma pequena chance de restaurar a situação. “Se pudermos baixar a temperatura novamente, mesmo depois do ponto de inflexão, talvez poderemos mudar as coisas”.
Mas seria necessário contar com técnicas de extração massiva de CO2 da atmosfera, que não são operacionais, “e que envolvem seus próprios riscos”.
Fonte: g1.