No último dia 8 de fevereiro, um avião despejou agrotóxicos em uma zona rural de Apuí no interior do Amazonas. Na ação, parte dos agrotóxicos acabaram atingindo outras propriedades rurais vizinhas da área; entre elas, a de um produtor do café agroflorestal em Apuí. Diante do impacto da ação, o Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas – Idesam elaborou um Relatório de Análise de Riscos para orientar a equipe local sobre respostas à emergência e iniciou uma série de ações buscando mitigar os impactos.
“Após o registro do ocorrido e uma investigação inicial dos fatos, demos início a uma série de ações visando apoiar os agricultores, proteger a certificação orgânica do projeto e dar respostas aos parceiros e aos consumidores em geral”, explica Marina Reia, líder da Iniciativa Estratégica Café Apuí.
Com as visitas técnicas realizadas aos produtores, foi possível atestar que os danos se restringiram a apenas um dos produtores do projeto, diferente do que havia sido divulgado inicialmente. “O [segundo] produtor esclareceu que sua propriedade não foi atingida. Julgou inicialmente, pela proximidade com o outro produtor, que teria sido afetado, mas não tem observado morte de plantas nem qualquer alteração típica de contaminação”, indicou o técnico Adalberto Vieira, responsável pelas visitas.

Em relação ao produtor afetado, foi realizada uma análise de resíduos no grão do café, para verificar o nível de contaminação. “Fizemos a coleta dos grãos de café, enviamos para o laboratório, e recebemos o resultado negativo de presença de agrotóxicos”, informou Marina.
As amostras do grão de café foram enviadas para análise laboratorial da Eurofins do Brasil, laboratório especializado em ensaios bioanalíticos. O parâmetro usado no ensaio foi GBP74 GB Multiresíduos Quechers LC e o resultado foi “nenhum resíduo de pesticidas quantificado”.
Isso não significa, no entanto, que o produtor não teve prejuízos. Por orientação da Associação Maniva de Certificação Participativa, a certificadora responsável pelo seu registro, ele terá o certificado de Orgânico suspenso, para que, sob nova averiguação do Idesam e da certificadora em campo, no ano de 2024, ele possa retomar a entrega de seu café como orgânico, nos termos da lei. Isso gera uma redução de aproximadamente R$ 3.500 no valor do produto, considerando os dois anos em que o mesmo não poderá ser vendido como orgânico.
Marina, que também integra a Rede Maniva de Agroecologia, reforça que “apesar de não ter sido identificada a presença de agrotóxicos, em função das regras da certificação orgânica participativa, o produtor não poderá vender seu café com orgânico pelos próximos dois anos, mas seguiremos buscando formas alternativas de permanecer apoiando esse produtor até o seu retorno ao projeto”, destaca a gestora ambiental.
O produtor também optou por não comercializar outros itens produzidos em sua propriedade, que foram afetados, para o programa de merenda regional.
De acordo com Sarah Sampaio, diretora executiva da Amazônia Agroflorestal, que comercializa as marcas Café Apuí Agroflorestal e Café Apuí Orgânico, tanto a startup quanto o Idesam estão se mobilizando para reduzir as chances de um novo incidente dessa natureza na região. “Estamos elaborando um mapa detalhado das propriedades orgânicas do café agroflorestal em Apuí para protocolar junto às autoridades locais; para que estejam cientes dos locais onde os produtores do Café Apuí estão presentes”, explica.
*Fonte:Idesam