Stranger Things fez uma estreia discreta em 2016, mas logo se converteu em um fenômeno com um grupo de protagonistas mirins carismáticos e uma aventura que resgatava o charme inocente dos filmes dos anos 1980. A inevitável segunda temporada veio cercada de expectativas impossíveis, e passou longe de ser unanimidade.
A terceira, que estreia hoje na Netflix após um hiato de quase dois anos, pega todos os elementos bem-sucedidos das antecessoras e os envolve em uma trama ágil, divertida e colorida, criando
um pacote ainda mais irresistível.
A história começa no verão de 1985, quando as crianças não são mais crianças. Mike (Finn Wolfhard) e Eleven (Millie Bobby Brown) estão namorando firme, assim como Lucas (Caleb McLaughlin) e Max (Sadie Sink). Até Dustin (Gaten Matarazzo) volta do acampamento de férias com um par, Suzie – cuja existência é posta em dúvida pelos amigos. Tudo isso para desgosto de Will (Noah Schnapp), que só quer continuar jogando Dungeons & Dragons, e do xerife Hopper (David Harbour), incomodado com o tempo cada vez maior que a filha passa com o namorado.
Mas a pequena cidade de Hawkins, Indiana, parece destinada a atrair confusões inter-dimensionais, então não é nenhum spoiler dizer que o sossego da turma dura bem pouco.
A trama tecida pelos irmãos Duffer começa a acompanhar quatro grupos diferentes, compondo aos
poucos um quebra-cabeça de mistérios que envolve até o clima político da época. Algumas são
naturalmente mais interessantes e divertidas do que outras, mas nenhuma se estende além do necessário, o que impõe um ritmo ágil e mantém o nível de tensão sempre nas alturas.
É uma delícia ver, também, a química dos pares formados pelo roteiro. A amizade crescente de Eleven e Max traz bons momentos, assim como as cenas de Dustin e Steve (Joe Keery), que já haviam sido um dos pontos altos do segundo ano da série. A dupla, aliás, ganha duas ótimas companhias: Robin (Maya Hawke) e Erica (Priah Ferguson), presenteadas com algumas das melhores cenas da nova temporada.
Os oito novos episódios se beneficiam bastante da estação em que a história se passa. Saem a névoa e os tons escuros que deram a cara das duas primeiras temporadas, e entra uma explosão de cor de encher os olhos. Isso é notado especialmente nas cenas do shopping Starcourt e da festa do feriado de 4 de julho, ambos grandes feitos da direção de arte da série que, de quebra, criam um contraste interessante com o tom mais gore adotado para as cenas de monstro.
O maior mérito da temporada, porém, está em seu roteiro corajoso, que cria um senso de perigo real e mais acentuado. Quando chega o seu terceiro ato, as apostas são altas – e os Duffer não recorrem a soluções simplórias para evitar consequências difíceis.
Divertido, assustador e emocionante, o novo ano de Stranger Things é, do início ao fim, uma viagem que impressiona. É a nostalgia de sempre, mas repaginada – e melhor ainda
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