A elevação da temperatura do Lago Tefé, situado no interior do Amazonas, foi identificada como um possível fator contribuinte para a morte de mais de 100 botos. Pesquisadores do Grupo de Pesquisas em Mamíferos Aquáticos Amazônicos do Instituto Mamirauá constataram que a temperatura da água atingiu 40ºC no pico dos óbitos.
Até o momento, 125 botos foram encontrados mortos no Lago Tefé.
De acordo com os cientistas do Instituto Mamirauá, as medições realizadas no lago na quinta-feira (28/09), quando 90 carcaças de botos foram descobertas, indicaram uma temperatura da água de 40°C a uma profundidade de três metros.
Historicamente, a temperatura média mais alta registrada no Lago Tefé era de 32°C.
Os especialistas acreditam que o aumento da temperatura da água possa ter causado a proliferação de algum patógeno que afetou os animais.
“A mudança climática, com essas altas temperaturas, está certamente afetando os animais. Ainda não sabemos se se trata de hipertermia [superaquecimento] ou se há alguma outra causa envolvida, como poluição, agentes infecciosos, ou proliferação de fitoplâncton ou algas na água devido ao calor”, explicou a líder do Grupo de Pesquisas em Mamíferos Aquáticos Amazônicos do Instituto Mamirauá, Miriam Marmontel.
O elevado número de animais mortos no Lago Tefé representa uma situação alarmante, uma vez que se trata de duas espécies ameaçadas de extinção e ícones da Amazônia.
Além do aumento da temperatura, a redução do nível da água no lago também preocupa, podendo persistir até meados de outubro e impactar comunidades ribeirinhas e a vida selvagem.
O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) também está investigando as causas das mortes dos botos e mobilizou equipes de resgate e amostragem.
Para minimizar os danos, estão sendo realizadas ações emergenciais, incluindo o resgate dos animais ainda vivos, coleta de amostras para análises de doenças e da água, monitoramento da temperatura da água e batimetria dos trechos críticos do lago.
A última contagem populacional desses animais, feita há alguns anos, estimou a presença de cerca de 800 a 900 botos e 500 tucuxis na região.
A seca na Amazônia é resultado da combinação de fenômenos como o El Niño e o aquecimento das águas do oceano Atlântico Tropical Norte, com o Rio Juruá, um dos rios mais sinuosos do mundo, sendo particularmente afetado pela situação.