Amplamente usada em todo o mundo na resposta ao novo coronavírus, a azitromicina recebeu um grande balde de água fria nesta sexta-feira (04/09).
No primeiro estudo do tipo clínico de que se tem notícia envolvendo o uso do medicamento em pacientes com covid-19 hospitalizados, pesquisadores brasileiros demonstraram que a azitromicina não leva a melhoras e, portanto, não tem indicação de uso para casos graves.
Publicada na Lancet, a segunda revista médica mais influente do mundo de acordo com a consultoria Clarivate Analytics, a pesquisa envolveu 397 pessoas com diagnóstico de covid-19 em casos considerados graves — assim classificados por critérios como necessidade de reforço de oxigênio ou ventilação mecânica. Além disso, eles tinham fatores de risco associados, como hipertensão ou diabetes.
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Os pacientes foram divididos aleatoriamente em dois grupos — 214 deles receberam azitromicina mais o tratamento padrão, e outros 183 receberam apenas o tratamento padrão, sem azitromicina. O tratamento padrão, feito em ambos os casos, incluía a hidroxicloroquina, pois naquela época — entre março e maio — seu uso estava sendo bastante frequente.
Quinze dias depois, a situação de saúde dos participantes foi avaliada através de uma escala com seis categorias, como ter recebido alta, mas manifestar sequela; estar internado usando ventilação mecânica; ou mesmo óbito — o que aconteceu em percentual alto, já que o grupo de pacientes acompanhados só incluía pessoas em estado grave.
Não houve diferença entre os dois grupos na melhora segundo esta escala; a mortalidade após 29 dias também foi praticamente igual (42% no grupo que recebeu azitromicina, versus 40% no grupo controle).
O tempo médio de internação foi, ainda, de 26 dias para os que receberam azitromicina e 18 no grupo que recebeu apenas o tratamento padrão. A incidência de efeitos colaterais foi semelhante nos dois grupos.
“Nosso estudo avaliou pacientes graves, em uma fase tardia da doença, mas não sabemos como a azitromicina funcionaria em pacientes ambulatoriais (mais leves)”, destaca Luciano Cesar Pontes de Azevedo, médico do Hospital Sírio-Libanês e parte da equipe que assina o artigo no Lancet.
“Gostaríamos muito que tivesse funcionado, porque é um medicamento barato, conhecido e normalmente bem tolerado na questão dos efeitos colaterais”, acrescenta, afirmando que, com os resultados, espera que ao menos o remédio deixe de ser receitado indiscriminadamente no tratamento para covid-19, o que poderia levar a falta do medicamento para quem precisa e também aumento da resistência de bactérias.