Quando subir ao octógono da Arena da Barra, já depois da meia noite, portanto, no Dia das Mães, para o combate principal do UFC 237, Jéssica Bate-Estaca literalmente lutará pelos seus sonhos. A paranaense de Umuarama terá a chance de disputar o cinturão peso-palha da organização “em casa”, no Rio de Janeiro, contra a americana Rose Namajunas, atual campeã da categoria.
— É meu grande sonho, e é o que vai proporcionar realizar outros — diz Jéssica.
Um dos maiores desejos da lutadora de 27 anos é ser mãe. Casada com Fernanda Gomes desde 2016, ela planeja uma inseminação artificial para o ano que vem:
— Conforme vou realizando sonhos, sonho outros novos. Já realizei mais do que imaginei. Espero que venha mais pela frente. O cinturão pode me proporcionar a casa própria, que quero ter e já está bem próxima, o sítio para a minha família em Santa Catarina e aumentar a família.
Por enquanto, ela cuida de seus cinco cachorros e dois gatos com sua companheira, “sem essa de mãe pet”, mas com muito amor envolvido. As histórias com dona Neuza, sua mãe, tiram os sorrisos mais sinceros de Jéssica.

— Ela nem sequer vê minhas lutas. Morre de medo de me ver machucada, de me ver tomando soco (risos). Tentei convencê-la a vir porque é em casa, mas ela disse: “Ganha o cinturão e a gente comemora aqui” — conta.
Na casa de quatro quartos, piscina e churrasqueira, em Niterói, seus sogros, Humberto e Cida são sua família.
— Foi a melhor “aquisição” que fiz. Eles são importantíssimos na minha vida — se derrete a lutadora.
Evolução também nos prêmios
Ao assinar com o UFC, Jéssica Bate-Estaca tinha sonhos bem simples. Ela queria ter uma cama box e uma televisão maior — com o Combate, de pay-per-view, onde passariam suas lutas — para jogar videogame, que acabara de comprar. Cinco anos depois, a mulher que colheu milho, dirigiu trator e sonhava ser Marta, a maior jogadora de futebol de todos os tempos, tem desejos maiores.
— Não tinha ideia do que o UFC significava. Achava que teria uma vida mais confortável e só. Naquela época eu dormia num colchão fino e não tinha nenhum aparelho eletrônico. Os sonhos eram pequenos hoje, mas naquele momento era muito. Eu não tinha e nem sabia que teria um dia — lembra.

Com o primeiro prêmio que conquistou, Jéssica comprou uma moto, que logo trocou por carro, à época do tamanho de outro desejo: dar carona para as colegas de treino na Paraná Vale-Tudo: — O UFC coloca uma cláusula que não podemos andar de moto. Primeiro veio a Pajero, que era velha, depois um Golf e agora um HR-V.
Após mudanças de cidade, a lutadora também trocou uma quitinete por uma casa “com TV e Combate em todos os quartos”. O videogame evoluiu: agora é um PlayStation 4. Vaidosa, ostenta coleções de tênis, bonés, roupas e, claro, medalhas.
— Conquistas, graças a Deus, não faltam — brinca.
‘A rosa e o espinho’ na categoria
Jéssica Bate-Estaca só tira o sorriso do rosto ao falar de Joanna Jedrzejczyk, algoz em sua primeira disputa de cinturão no UFC. A polonesa, conhecida pelo estilo nada respeitoso, declarou sua torcida para a brasileira, mas não a convenceu.
— A Joanna acha que me vence, por isso diz que está torcendo. Como ela está fora, o que resta é falar mesmo — diz Jéssica.

A verdade é que Rose Namajunas chocou o mundo ao nocautear a até então invicta campeã dos palhas. E repetiu a dose na revanche. Como já venceu Jéssica em 2017, quando manteve seu título, Joanna entende que estaria de volta ao páreo pelo cinturão contra a brasileira.
Jéssica mostrou respeito à americana, a quem deu uma rosa na pesagem:
— Rose não é medrosa como a Joanna. Por isso, deixa para resolver na luta. A Joanna provoca porque corre de mão pesada. O psicológico da Rose é mais forte.
A brasileira não adiantou a estratégia, mas prometeu atitude diferente de sua primeira disputa de cinturão
— Fiquei um pouco presa. Desta vez vou fazer a Rose jogar meu jogo de trocação. Se ela quiser ir para o chão, é com ela mesmo — projeta.
*Extra