Documentário “Encantadas” mostra a resistência das mulheres ativistas na Amazônia

Foto: Divulgação
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“A terra é meu corpo, a água é meu sangue. Os rios são os caminhos que percorremos”. Esta é a fala inicial do minidocumentário de curta-metragem “Encantadas – Mulheres e suas lutas na Amazônia”, lançado este ano no Centro de Artes da Universidade Federal do Amazonas (CAUA/UFAM), o filme traz depoimentos de mulheres amazônidas que são lideranças ativas em suas comunidades.
O filme é resultado da parceria entre o Centro Feminista de Estudos e Assessoria Cfêmea e outras 20 organizações feministas da região Norte. Completando 30 anos em 2019, o Cfêmea ocupa-se de fazer mediações entre os movimentos de mulheres e o Congresso Nacional.
O documentário retrata ativistas-membro da Articulação de Mulheres do Brasil (AMB), e foi idealizado e produzido em 2018, durante o curso “Autocuidado e Cuidado entre Ativistas”, promovido pelo Cfêmea. Para Antônia Barroso, única amazonense a aparecer no filme, foi durante o evento que ela percebeu a necessidade de se expressar a diversidade da mulher amazônica, mas também de mostrar as lutas “por trás de seus rostos”.
O filme tem duração de 20 minutos e é assinado como uma obra coletiva, desde a  construção do argumento até a criação do roteiro. A carioca Taís Lobo foi a responsável pela direção e edição. Representando a equipe técnica e a Cfêmea estava no lançamento a diretora de produção e assessora técnica Milena Argenta, de Brasília.
“A gente tem muito carinho, muito amor por esse filme que traz as vozes das mulheres que resistem aqui na Amazônia, contra a pressão do mercado, dos megaprojetos sobre os seus territórios e suas comunidades: indígenas, quilombolas, ribeirinhas e as mulheres da cidade, que também lutam por direitos, igualdade de gênero”, afirmou Milena.

Cena do filme Encantadas (Divulgação)
Milena Argenta durante o debate (Foto: Maria Cecília Costa/Amazônia Real)

Antônia Barroso, 49 anos, que participa há mais de 20 anos do movimento feminista, é membro do Fórum Permanente de Mulheres de Manaus (FPMM), do Movimento LGBT, da Rede Brasileira de Integração dos Povos (Rebrip) e do Coletivo Urihi, e foi a única a representar o Amazonas no documentário.
Antônia afirma que sua pauta principal é lutar pelos direitos humanos das mulheres, porque “aqui, na nossa região, tem a ver com a diversidade de identidade delas.”
“Quando eu falo de identidade, falo dessas mulheres que trazem, na sua ancestralidade, a luta pela floresta, pela preservação da vida. A proposta é de mostrar a resistência das mulheres, mas também de denunciar essas grandes mazelas que a gente sofre”, explicou.
Além de Antônia, estão presentes no documentário Ivonilse de Jesus Santos (Quilombolas de Saracura/PA), Rosa Maria Pessoa (PA), Ellen Sateré-Mawé (Coletivo Suraras do Tapajós/PA), Merlane Mikure (AP), Lídia Roberta de Matos (PA), Cláudia Silvia Medeiros, Joaquina Lopes de Freitas, Graça Brazão (Quilombo de Campina Grande/AP), Igina Mota Sales (PA), Domingas Martins (Grupo de Mulheres Brasileiras/PA), Nilde Maria de Souza (Fórum de Mulheres Paraenses/PA), Juce Borari (Suraras do Tapajós/PA) e Ivanilde Oliveira.

Mulheres do movimento feminista que participaram do lançamento (Foto: Rodrigo Duarte)

Considerando a proposta de dar visibilidade e valorização a mulheres ativistas da Amazônia, o documentário se faz presente e necessário, em uma época em que estão ocorrendo execuções de lideranças comunitárias, com maior frequência no país. Dentre elas, ocorreu a chacina de Pau D’Arco, citada no filme, e o recente assassinato da agricultora e ativista Dilma Ferreira Silva, coordenadora do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), na região de Tucuruí. Dilma foi lembrada diversas vezes durante o evento.
O depoimento mais marcante de “Encantadas – Mulheres e suas lutas na Amazônia” é o de Graça Brazão, do Quilombo de Campina Grande (AP) e da Articulação de Mulheres do Amapá. Graça fala sobre a importância de manter a terra do quilombo, uma vez que seus ancestrais lutaram por sua posse. Mesmo ameaçada de morte, o depoimento dela tem toques de bom humor em alguns momentos. Para ilustrar a relação entre comunidade e terra, através da agricultura familiar, Graça afirma: “Porque a terra é onde a gente vive e pra onde a gente volta”.
Um aspecto bastante abordado durante o documentário é como encontrar modelos econômicos que respeitem os povos da região Norte. Em um momento do filme, é citado que o verdadeiro objetivo das grandes obras na região amazônica, como as hidrelétricas, é “des-envolver” as populações tradicionais e suas relações particulares com a natureza, tal como disse a ativista Rosa Maria.
Uma moradora de Altamira, em outro momento do filme, completa esse pensamento com as palavras: “Desmatamento não é desenvolvimento”.

A ativista Antônia Barroso participa do filme (Foto: Maria Cecília Costa)

Para Antônia Barroso, uma das soluções possíveis é o estímulo a uma economia circular que seja compartilhada e que favoreça, principalmente, as pequenas iniciativas geridas por mulheres. “Valorizar as mulheres que trabalham em cooperativas, associações, costureiras é valorizar, também, as histórias delas”.
Há alguns aspectos a serem avaliados, no que diz respeito à construção da narrativa do documentário. Por se tratar de uma obra que tem a duração de apenas 20 minutos, é natural que os depoimentos fossem condensados. Isso também fez com que muitos deles fossem dispostos de maneira confusa. Em alguns trechos, as vozes se misturam e, muitas vezes, são apresentadas antes mesmo do rosto das mulheres, dificultando a identificação de quem fala, para se atribuir a autoria dos depoimentos.
As legendas de identificação também sofreram um problema técnico: demoram muito a aparecer, são difíceis de ler e duram pouquíssimo tempo na tela. Além dos depoimentos, parece haver também um excesso de sobreposições nas imagens, o que colabora para a sensação de quem assiste ao documentário de que está havendo alguma confusão em alguns momentos da narrativa. Por outro lado, as imagens são bonitas e com cores vivas e atraentes.
Tais problemas técnicos poderiam ser facilmente resolvidos com uma nova edição, pois eles não tiram os méritos do filme em trazer a público as narrativas de lutas de mulheres que vivem em lugares remotos da Amazônia.
Raquel Monteiro, uma das fundadoras do Coletivo Ponta de Lança e do Fórum Permanente de Mulheres de Manaus, ao tecer comentários sobre o filme disse: “é um filme que não foi trabalhado em cima de estereótipos amazônicos, e sim em diálogo direto com essas mulheres. A gente percebe o convívio, a expressão dessas mulheres e da luta delas. Não é um olhar especulador sobre o fato”, opina Raquel.
Assista ao trailer de “Encantadas – Mulheres e suas lutas na Amazônia” aqui.

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