O movimento de arte urbana vem ganhando cada vez mais destaque no cenário do Amazonas e ao redor do mundo. E como a arte tem o poder de expressar ideias e evocar sentimentos, a ONG Visão Mundial decidiu utilizar essa linguagem para trazer para o centro da atenção uma importante temática: os direitos das crianças e os tipos de violências.
E dessa proposta surgiu a exposição “365 dias de proteção: um olhar para os direitos infantojuvenis e suas violações”, mostra artística que está em exibição em Manaus, no Largo de São Sebastião até sábado (25), das 9 às 16 horas, e no mirante da Ponta Negra, neste domingo (26/06), das 6 às 18 horas.
A iniciativa tem o objetivo de conscientizar para uma realidade alarmante que afeta crianças de todo o Brasil, com casos de abuso sexual e outros tipos de agressões que ocorrem principalmente em ambiente familiar, conforme apontam as estatísticas acerca do tema.
As pinturas são assinadas por André Hulk, Chermie Ferreira, Deborah Erê, Emerson, Gnos, Kina, Mia Montreal, Adonay, Thaizis Benlolo e Teonda, todos com trabalhos consolidados no Amazonas e fora do estado. Cada artista ilustra um tema específico proposto pela ONG, e os trabalhos carregam as influências e estilos visuais dos autores.
As composições abordam direitos como saúde, alimentação, lazer e educação e situações de violações como trabalho infantil, violência física, psicológica, maus-tratos, abuso e exploração sexual.

“O projeto foi bem aceito pelos artistas, que toparam imediatamente participar da exposição. E o resultado é um trabalho com elementos da cultura local e ao mesmo tempo representativo para o tema da Proteção. Ficamos bastante satisfeitos de poder colocar à disposição da população um trabalho como este”, disse Daiane Lacerda, gerente de projeto da ONG Visão Mundial.
A intenção de ofertar um evento dessa natureza é para chamar a atenção da população para os direitos e as crescentes estatísticas de violação que as meninas e meninos brasileiros enfrentam no dia a dia, dando a importância pública que o tema merece.
Segundo dados da Ouvidora Nacional de Direitos Humanos, em 2021, foram registradas 100.974 denúncias de violências contra crianças e adolescentes no Disque 100, das quais 18.681 relacionadas à violência sexual.
“As situações de violência não podem ser banalizadas, já que trazem consequências graves para o desenvolvimento e o futuro das crianças. Nesse sentido, estamos nos mobilizando para mostrar com a linguagem artística as formas de expressão e os impactos que as violações causam nesse público mais vulnerável”, enfatiza.

Educação para a proteção é caminho de mudança
Para responder à necessidade de conscientização, a ONG Visão Mundial tem intensificado a agenda de treinamentos, por meio do projeto do projeto Resposta à COVID-19 no Brasil – Amazonas unido pela prevenção, que conta com o financiamento do Escritório de Assistência Humanitária (BHA) da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID). Somente em maio, uma série de palestras foi ofertada a profissionais do Sistema de Garantia de Direitos, entre eles organizações sociais, escolas e igrejas.
Em um mês, 5.876 pessoas foram orientadas, sendo 2.423 estudantes de escolas públicas, 1.893 pessoas treinadas nas igrejas e outras 1.560 em instituições sociais parceiras. Entre os tópicos abordados nas ações educativas, destacam-se a autoproteção, o olhar atento para os casos de violência no ambiente familiar e a importância de denunciar situações suspeitas.
Ensinar a criança sobre autoproteção é uma estratégia importante contra a violência sexual. Significa ensinar os pequenos a reconhecer situações de violação e o que fazer diante desses casos. Parte desse conhecimento inclui instruir sobre as partes do corpo, como distinguir o contato afetivo bom daqueles considerados ruins e abusivos, o que é o abuso sexual e a diferença entre abuso e exploração sexual.
Mas, nem sempre é uma tarefa fácil conversar sobre essas questões, pois o tema gera desconforto e exige alguma preparação prévia dos pais, mães, tutores e responsáveis. Para apoiar nesse diálogo, a Visão Mundial desenvolveu materiais informativos, entre eles uma história em quadrinho que ilustra uma abordagem.