A Abraji registrou 390 bloqueios contra profissionais de imprensa em 2022. O presidente Jair Bolsonaro (PL) lidera o ranking de 53 autoridades. O presidente já bloqueou no Twitter 105 perfis de jornalistas, impedindo que tivessem acesso a suas declarações como agente público.
Segundo o levantamento pelo menos 53 autoridades realizaram bloqueios de profissionais de imprensa, atingindo a marca de 390 banimentos a jornalistas.
Os bloqueios foram registrados entre set.2020 e dez.2022, período em que a Abraji desenvolveu o projeto de monitoramento de bloqueios à imprensa por parte de autoridades públicas. A iniciativa teve apoio da Open Society Foundations e revelou que a maioria das restrições partiu não só do clã Bolsonaro como de agentes ligados diretamente ao presidente da República. O ex-secretário especial da Cultura, Mário Frias, está em segundo lugar na lista (43), seguido do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub, com 42.
Em 28 meses de monitoramento, a Abraji registrou que 195 jornalistas foram proibidos de acompanhar as postagens diárias de políticos com cargos eletivos e associados, como parlamentares, ministros, prefeitos e/ou do presidente da República. Os casos foram contabilizados por meio de busca ativa por palavras-chave e coleta de respostas neste formulário. O programa de acompanhamento do Twitter termina no fim de 2022.
“Não sabemos quais rumos o Twitter irá tomar, mas é preciso ter em mente que, enquanto for usado como uma ferramenta de comunicação oficial, é inadmissível o bloqueio de jornalistas e veículos, uma vez que restringe o trabalho da imprensa”, afirma a presidente da associação, Katia Brembatti.
Do total de jornalistas vetados, 42% (81) foram proibidos de acessar os perfis de dois ou mais agentes públicos. O jornalista Leandro Demori está entre os profissionais mais bloqueados, com nove banimentos. Ele comenta que foi um dos primeiros jornalistas a ser bloqueado por Bolsonaro em 2018 e que o veto ocorreu após receber uma série de ataques virtuais. “Acredito que eles só bloqueiam as contas de jornalistas ou comunicadores quando eles identificam que os ataques coordenados não fazem muito efeito. A intenção é fazer com que você diminua o tom das críticas e não fale mais, logo, a primeira estratégia é o ataque”, afirma.
O uso da plataforma por jornalistas é observado inclusive como parte importante para a democracia digital, como mostra uma pesquisa feita pelo Twitter no Brasil, com dados de jun.2022. O levantamento identificou, por meio de entrevistas com usuários da rede, que as contas de comunicadores e de veículos jornalísticos são as mais seguidas para obtenção de informações sobre conteúdos políticos (57%).
*Fonte: Abraji