Museu do Índio lança a exposição virtual Hetohokỹ – a festa da Casa Grande do povo Iny

A exposição tem curadoria da pesquisadora Chang Whan, autora do livro Ritxoko: a Voz Visual das Ceramistas Karajá. Foto: Reprodução
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Dando início à programação para a comemoração dos 70 anos do Museu do Índio (MI), a Funai lançará a exposição virtual Hetohokỹ – a festa da Casa Grande do povo Iny, na plataforma Google Arts & Culture.

A iniciativa vai ao ar na programação da 21ª Semana Nacional de Museus, evento promovido pelo Instituto Brasileiro de Museus, que neste ano ocorre entre os dias 15 e 21 de maio.

Por meio de imagens, vídeos e pequenos textos, a exposição narra o processo de preparação e realização do hetohokỹ, uma das principais celebrações rituais dos Iny, como se autodesignam os Karajá, e que marca a introdução dos meninos Iny no mundo dos homens adultos.

Hetohokỹ está organizada em três partes. A parte 1, denominada Os preparativos descreve o conjunto de atividades realizadas pelas famílias e pela comunidade que antecedem o grande evento. A parte 2, intitulada A celebração, traz os ritos que marcam a iniciação dos meninos, quando a grande festa, que mobiliza, inclusive, outras aldeias do povo Iny, é realizada. A última parte, com o nome de A casa grande é a escola Iny do Jyrè, procura apresentar o hetohokỹ como uma instituição de educação tradicional dos meninos Iny.

A exposição tem curadoria da pesquisadora Chang Whan, autora do livro Ritxoko: a Voz Visual das Ceramistas Karajá, que atua há mais de 30 anos com o povo Iny. As fotografias, vídeos e outros materiais utilizados na construção da narrativa são resultado das atividades desenvolvidas por ela no contexto das atividades do subprojeto de documentação da cultura Karajá/Iny no âmbito do Projeto de Documentação de Línguas e Culturas Indígenas, desenvolvido em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), que visa à documentação de línguas e culturas dos povos indígenas e a formação de pesquisadores indígenas.

Foto: Reprodução

O ritual

Hetohokỹ significa “Casa Grande”, pois, para a festa, é construída uma grande casa, na qual os meninos estabelecerão seus primeiros contatos com os ensinamentos, valores morais e espirituais relacionados ao universo masculino Iny. Depois de iniciados, os jyrè, ou meninos-ariranha, como passam a ser denominados, poderão frequentar o pátio dos homens e auxiliar nas tarefas masculinas, tais como a caça, a pesca e a manutenção da casa de Aruanã ou Ijasó, espaço sagrado que só pode ser frequentado por homens iniciados. Nessa fase, os jyré aprendem ainda a confeccionar os adornos que são feitos exclusivamente pelos homens e utilizados no ritual, além de outros artesanatos e artefatos utilizados no cotidiano.

Nem todos os meninos passam pelo hetohokỹ. Ele somente será realizado a partir da manifestação de interesse das famílias cujos filhos estejam em idade apta à iniciação, em geral ao redor dos 12 anos. Os pais desses meninos dirigem-se ao Irydu, o chefe ceremonial, levando presentes, para pedir a realização do hetohoky͂ para seus filhos. O Irydu, então, anuncia a realização do próximo ritual, convocando os homens da aldeia e os Ijasó, os espíritos de peixes aruanãs, para que iniciem os preparativos para o grande evento.

A preparação do ritual leva em torno de um semestre. Com meses de antecipação, as famílias começam a se preparar para o grande dia, quando seus jyrè entrarão na Casa Grande. Mães e tias confeccionam esteiras novas e adornos para eles usarem na ocasião. Pais e tios fabricam o korixy, banquinho cerimonial, e fazem roça, se preparando para prover alimento para os ijasò e os convidados que chegarão das outras aldeias.

No período de cheia, em torno do mês de março, o chefe cerimonial dá a ordem para buscar o mastro tòò, dando início à preparação para a construção da casa grande, que abrigará os jyrè durante a celebração. Quando a construção está concluída, o chefe cerimonial guia os momentos da grande festa, na qual os participantes e convidados de outras aldeias cantam, dançam, praticam disputas e lutas tradicionais até o amanhecer. No raiar do dia, os meninos são levados para dentro da Casa Grande onde ouvirão conselhos, aprenderão tarefas e adquirirão o conhecimento necessário para se tornar um verdadeiro homem Iny.

Foto: Reprodução

Os Iny

Os Iny são ocupantes tradicionais das margens do rio Araguaia, desde o estado de Goiás, passando pelos estados do Mato Grosso e Tocantins, até o estado do Pará.

A língua Karajá, ou Inyrybe (a fala dos Iny), é, geralmente, a primeira língua adquirida pelas crianças em quase todas as aldeias. Pertencente ao tronco linguístico Macro-Jê, a família Karajá é constituída de quatro variantes dialetais: o Karajá do sul, o Karajá do norte, o Javaé e o Xambioá. Esses dialetos são mutuamente inteligíveis, possuindo, fundamentalmente, a mesma morfossintaxe.

Segundo Chang Whan, um dos principais fatores ligados à resistência da práticas culturais e da língua do povo Iny, não obstante o contato continuado com a sociedade nacional há pelo menos dois séculos, é justamente a manutenção das práticas cerimoniais e rituais cíclicas, como o hetohokỹ, que reiteram e reafirmam sua a cosmologia e espiritualidade. Além disso, ela acrescenta a importância das mulheres Iny e da garantia dos direitos territoriais para a reprodução física e cultural do povo.

“Há que se registrar também que todas as crianças Karajá da Terra Indígena (TI) Parque do Araguaia, situada na Ilha do Bananal, no Tocantins, aprendem a língua Karajá, o Inyrybè, como sua língua materna. São as mulheres as responsáveis pela sua transmissão e manutenção nas comunidades Karajá. O fato de a TI estar homologada desde 1998 também é um fator fundamental para o fortalecimento da etnia. Um território em conflito fragiliza os povos indígenas e coloca em risco sua língua e cultura”, afirmou a curadora.

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