Depois de viver a maior crise dos seus dois anos de governo à frente do Amazonas no desabastecimento de oxigênio na rede hospitalar, Wilson Lima (PSC) afirmou, em entrevista a VEJA, que fevereiro pode ser ainda pior. Ápice do “inverno amazônico”, marcado pelas chuvas ininterruptas e a alta umidade do ar, o mês costuma bater o recorde no registro de doenças respiratórias. O sistema de saúde amazonense encontra-se hoje numa verdadeira sinuca de bico: é imperativo ampliar o número de leitos nos hospitais, mas falta oxigênio para abastecer tal estrutura. “Fevereiro me preocupa muito.
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Nós estamos trabalhando contra o tempo para que não sejamos atingidos desta forma. Mas se nós vimos isso agora em janeiro, fevereiro é o mês que tem mais incidência de síndromes respiratórias. Eu não posso garantir que o pior já tenha passado. Não descarto um agravamento do problema em fevereiro”, disse o governador. “Eu tenho uma quantidade significativa de oxigênio chegando ao Amazonas, mas o nosso maior problema é o combate à pandemia. Eu ainda tenho muitos pacientes precisando de leitos. E, para aumentar isso, preciso de mais insumos e profissionais”. “Se nós vimos isso agora em janeiro, fevereiro é o mês que tem mais incidência de síndromes respiratórias. Eu não posso garantir que o pior já tenha passado”.
No meio de 2020, quando retrocederam repentinamente os casos de Covid-19 no Amazonas, boa parte das autoridades, incluindo Lima, chegou a declarar que o pior da pandemia havia sido superado. Agora, que a segunda onda veio ainda pior do que a primeira, o governador adotou um tom menos otimista.
“O que estamos passando hoje é algo sem precedentes na história. Quem foi que enfrentou algo semelhante que possa nos dar a solução? Ainda estamos lidando com o imponderável. Nós fizemos todo um planejamento baseado no que havia acontecido em abril e maio”. Naquela época, em que Manaus estampou a capa dos jornais brasileiros e estrangeiros com a imagem de dezenas de covas sendo abertas, o consumo de oxigênio nos hospitais passou de 15.000 a 30.000 metros cúbicos em 30 dias. Neste ano, o consumo foi de 15.000 a 75.000 metros cúbicos em 15 dias.
O governador calcula que, para a situação se estabilizar, seria necessário ter à disposição mais de 110.000 metros cúbicos de oxigênio. [quote author=””]”O que estamos passando hoje é algo sem precedentes. Quem foi que enfrentou algo semelhante que possa nos dar a solução? Ainda estamos lidando com o imponderável”[/quote] Lima reconhece que este pior cenário, que acabou se concretizando, não foi previsto pelas autoridades. E que a empresa White Martins, a maior fornecedora de oxigênio do estado, demorou a alertar sobre a real gravidade da situação.
“Na nossa conta, mesmo se agravasse a situação, nós ainda teríamos condição. Em nenhum momento contávamos com essa possibilidade, até porque não fomos informados pela empresa sobre a possibilidade de falta de oxigênio. Em relação a isso, sempre estivemos muito tranquilos. Tínhamos um indicativo de aumento de demanda, mas no nosso entendimento a empresa conseguiria suportar. Mas ela não teve condições”, explicou ele.
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Paciente com Covid-19 é transferido de Manaus para hospital do Pará por causa da falta de oxigênio[/caption] O governador foi avisado inicialmente do problema no dia 7 de janeiro — portanto, praticamente uma semana antes do colapso nos dias 13 e 14. No entanto, o cenário de que realmente não haveria oxigênio para ajudar os pacientes a respirar só foi percebido na madrugada do dia 13. “Foi o pior dia da minha vida. Nós tivemos que por todo o pessoal em alerta. Não há decisão fácil quando se é governador”, disse, referindo-se ao plano de minimização de danos que foi posto em prática a partir daquele momento, que previa preparar as funerárias para a chegada dos mortos, acionar os bombeiros e a Polícia Militar para ajudar na ventilação mecânica dos pacientes e escolher quais hospitais deveriam receber o estoque restante de oxigênio.
Fazendo uma análise do passado com os olhos de hoje, o governador não se arrepende de ter aliviado as restrições de circulação determinadas por ele próprio no final de 2020 – as medidas geraram uma onda de protestos por parte da população e de deputados bolsonaristas. “Todas as decisões que a gente tomou foram técnicas baseadas no quadro que a gente tinha no momento. Uma coisa é fazer lockdown na França Alemanha, outra em Manaus. Tem gente que trabalha durante o dia para conseguir a janta à noite”, disse.
Depois de contar com a ajuda do governo Bolsonaro e do governo venezuelano para trazer toneladas de oxigênio ao Amazonas, Lima declarou que recebe pressão “de todos os segmentos”, mas que sempre tenta buscar o caminho do equilíbrio. Criticado por seus opositores que chegam até a pedir o seu afastamento, Lima se defende: “Tem muita gente que age de maneira oportunista com o claro objetivo de atacar o governo e se promover politicamente. Esse não é o momento para fazer isso. A história um dia vai cobrar. É fácil jogar pedras e se isentar de responsabilidades. Difícil mesmo é estar na linha de frente e ter que tomar decisões”.