O paleontólogo e diretor do Museu de Paleontologia de Marília, Willian Nava, encontrou ovos de dinossauros carnívoros, que viveram no período Cretáceo, há cerca de 60 a 80 milhões de anos, na região do Oeste paulista, mais especificamente na Bacia Bauru. Os fósseis foram encontrados em um sítio arqueológico na cidade de Presidente Prudente (SP), a aproximadamente 163 km da capital.
O que chama a atenção na descoberta é que os ovos estão inteiros, ou seja, os animais não foram chocados e não saíram do ovo. A expectativa agora, ainda que remota, segundo Nava, é de que exista em algum desses ovos, um embrião fossilizado. Caso a hipótese seja confirmada, será o primeiro do Brasil.
Descoberta rara
Willian Nava contou ao portal que trabalha com escavações há cerca de 29 anos. De acordo com ele, em agosto de 2020, já havia encontrado dois ovos de dinossauros carnívoros em Presidente Prudente, em um local próximo de onde foi encontrada uma ninhada grande de ovos de crocodilomorfos. No entanto, a descoberta não foi divulgada à época.
“Encontramos dois ovos de dinossauros fossilizados em 2020, mas um deles estava danificado e o outro, inteiro; então não divulgamos, achamos que fosse algo isolado. Mas sabíamos que existia uma diferença pelo tamanho dos ovos. Enquanto os ovos de crocodilos têm entre 6 e 8 cm, os de dinossauros chegam a ter 13 cm de comprimento e 7 cm de largura”, disse ele.
“Em agosto de 2021 topamos com essa ninhada de cinco ovos de dinossauros carnívoros. As primeiras análises, feitas de forma preliminar em Marília (SP), indicam se tratar realmente de possíveis dinossauros carnívoros pequenos – megaraptores ou maniraptores. Dois grupos que viveram na América do Sul, principalmente na Argentina”, ressalta o paleontólogo.
Nava destaca que para a definição concreta da espécie serão necessários estudos aprofundados, que devem ser feitos na Universidade de Brasília (UnB). Segundo ele, o material coletado ainda não foi enviado para o laboratório, pois depende de acordos que devem ser firmados nos próximos meses.
“Para definição exata será necessário que o material seja submetido a uma análise de Microscopia Eletrônica de Varredura. Essa análise é feita em laboratório de universidades, para estudar particularidades da casca do ovo, espessura, padrão de alinhamento, crescimento, padrão do tecido, tipo de ondulação, para chegar a um grupo de dinossauros carnívoros. O objetivo é determinar com precisão todas as informações”, pontua o diretor do museu.
Expectativa
Conforme Nava, a descoberta dos ovos intactos de dinossauros carnívoros representou uma surpresa. Porém, segundo ele, há uma expectativa de que algum desses ovos tenha um embrião fossilizado.
“Fazemos essas escavações continuamente, sempre com vistas a detectar a presença de qualquer organismo fossilizado. De fato, essas são situações raras, já que as situações ambientais da rocha não permitem a preservação, demandam ambientes particulares. A nossa expectativa, ainda que remota, é encontrar um embrião, como foi divulgado na China. Aliás, esse foi o estopim para divulgação desses dados. Não é algo que descartamos. Caso seja encontrado, será o primeiro do Brasil”, disse o paleontólogo.
Sobre as condições para que esses ovos permanecessem intactos, Nava diz que existem apenas suposições, mas aponta que foram rapidamente soterrados. “São particularidades da natureza. O ambiente não destruiu os ovos, imagina um ovo que ficou 70 milhões de anos preservadinho. Eles devem ter sido depositados em areias finas, nas bordas de lagos, sem muita movimentação. As cascas não foram eclodidas, eles não chocaram, os filhotes não nasceram, por isso essa expectativa do embrião fossilizado”, conta o estudioso.
“Se fossem só fragmentos de cascas indicaria que os ovos eclodiram. As duas ninhadas que encontramos – dinossauros e crocodilos – todos os ovos estão fechados, todos foram soterrados e ficaram preservados. Sofreram pequenas fraturas e a lama penetrou no interior dos ovos. A gente olha com a lupa e dentro tem areia, é difícil saber se está completamente preenchido, mas com a análise utilizando outras tecnologias, será possível ir a fundo e trazer outras considerações”, completa Willian Nava.
Metrópoles*