Pesquisa desenvolvida em colaboração da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e o Laboratório Federal de Defesa Agropecuária no Rio Grande do Sul (LFDA/RS), por meio do Setor Laboratorial Avançado em Santa Catarina (SLAV/SC), resultou em metodologia inédita para analisar a contaminação de pescado com petróleo. Fruto da evolução da ciência e tecnologia brasileiras, o método causou causar um impacto imediato na saúde pública.
Reconhecida internacionalmente por órgãos como o United States Department of Agriculture (USDA) e a International Spill Control Organization (ISCO), a metodologia foi desenvolvida após o desastre ambiental de 2019, quando um derramamento de petróleo afetou 11 estados brasileiros. O projeto reúne expertise dos servidores Rodrigo Barcellos Hoff, Heitor Daguer e Fabiano Barreto, todos Auditores Fiscais Federais Agropecuários (Affas). O trio de se aliou ao grupo composto pelos pesquisadores Pedro Luiz Manique Barreto, Luciano Molognoni, Thais de Oliveira e Ana Paula Zapelini de Melo.
Ana Paula, pesquisadora responsável pelo desenvolvimento do método, observa que o trabalho envolveu técnicas avançadas de extração para quantificar a presença de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) em pescado. Esse grupo de compostos químicos, presentes da composição do petróleo, são conhecidos por suas propriedades carcinogênicas para humanos e também por servirem como marcadores de contaminação petrogênica em alimentos. Além disso, a especialista reitera ainda que a metodologia foi desenvolvida e validada em tempo recorde e destaca como o engajamento foi vital para alcançar este resultado.
“O processo de desenvolvimento e validação do método analítico foi concluído em apenas quatro meses. Isso foi possível devido à intensa dedicação da equipe envolvida, que trabalhou para conduzir experimentos, coletar dados, realizar análises detalhadas e otimizar o método de forma eficaz. A colaboração e o comprometimento da equipe foram fundamentais para desenvolver o método, que garantiu a segurança dos consumidores de pescado após o desastre com derramamento de petróleo no litoral do Brasil”.
Inovadora, a metodologia utiliza máquinas de cápsula de café espresso adaptadas para extrair os contaminantes do pescado para uma análise rápida, confiável e segura e apresenta alto índice de precisão e confiabilidade. A pesquisadora destaca que a confiabilidade do método foi demonstrada por meio de protocolos de validação, seguindo os rigorosos critérios estabelecidos pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) e União Europeia.
“O método foi adotado pelo MAPA como oficial para determinar a presença de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) em pescado, após o derramamento de petróleo ocorrido no Brasil em 2019. Os resultados fornecidos por esse método foram essenciais para respaldar as ações das autoridades reguladoras após a tragédia ambiental”, destaca.
Outro fator animador, segundo a pesquisadora, é o nível de confiança de 95%, que rendeu ao método publicação na revista Food Analytical Methods, da Springer Nature, e pode ser reproduzido por outras universidades e laboratórios.
“ A máquina de café espresso, que simula a extração por líquido pressurizado (PLE), foi utilizada em um momento de emergência sanitária. Naquela ocasião, era essencial dispor de um método rápido, de baixo custo e que fornecesse resultados metrológicos confiáveis”, detalhou.
Com isso, o trabalho entrega um impacto positivo à pesquisa científica brasileira para enfrentar desafios ambientais e evoluir na proteção da saúde pública, ambiental e alimentar.
“A combinação de conhecimento científico sólido e soluções inovadoras tem o potencial de impulsionar avanços significativos na pesquisa científica no Brasil, desempenhando um papel essencial não apenas para garantir a segurança dos alimentos, mas também para lidar efetivamente com desastres ambientais. Essa abordagem fortalece a capacidade do país de enfrentar situações críticas de maneira eficaz e pode influenciar de forma positiva a resolução de desafios de alcance global”, concluiu.