O movimento Articulação dos Atingidos e Atingidas pela Vale realizou um protesto em frente à sede da mineradora em Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro, na manhã desta terça-feira (30). Os manifestantes colocaram na escadaria da empresa placas com nomes dos 233 mortos e 37 desaparecidos no rompimento da barragem em Brumadinho (MG). O ato tinha como objetivo chamar a atenção de populares e, principalmente, acionistas que se reuniram, às 10h, para uma assembleia.
Morador do bairro, o economista Fabiano Costa Coelho apoiou a manifestação e disse considerar importante a cobrança de ações a fim de evitar novas tragédias.
“São várias barragens com risco de ceder e a gente tem que equilibrar os interesses econômicos com a vida no Brasil. A gente tem que se esforçar para que os processos econômicos estejam alinhados com o bem estar da sociedade e que a ótica econômica não seja tão estreita que a gente ponha em risco coisas mais elevadas”.
Uma das integrantes do grupo de acionistas críticos, a advogada, de Brumadinho, Camila Oliveira disse que a expectativa é a de ser ouvida na reunião de hoje.
“Embora o relatório de administração tenha uma parte significativa montada sobre o crime em Brumadinho, eles tratam a situação como se tudo que fizeram fosse para evitar a tragédia e sabemos que não foi isso. Eles tentam ludibriar os acionistas e dizem que investiram, de Bento Rodrigues até o rompimento da Mina do Feijão, quase R$ 800 milhões. É algo para se questionar também. Porque estão investindo de forma errada. Não é possível que em pouco mais de três anos aconteça tudo novamente” afirmou, comparando a tragédia de Brumadinho, em janeiro, à de Marina, em 2015.
E a advogada ainda acrescentou: “Queremos que os acionistas entendam que a empresa prejudica a própria imagem e constrange os investidores, além disso pratica as atividades de forma predatória, sem respeito à vida humana. As comunidades onde atuam são precárias, os salários que discutem para pagamento dos conselhos é imoral perto de comunidades carentes que eles exploram, destroem e matam”.
Professora da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora) , em Governador Valadares, Luciana Tasse, que vive na região atingida pelo desastre de Mariana, em 2015, disse ter comprado uma ação, em março deste ano, para participar da assembleia e contestar o relatório administrativo que deve ser apresentado pela Vale.
“A gente queria entrar no local onde as decisões são tomadas pelo menos para constranger esses administradores. Porque a gente acredita que eles têm que se confrontar com essa realidade. Se eles não vão ao território, o território vem aqui confrontar os dados apresentados para sociedade. Apesar da propaganda institucional, os atingidos na região do rio Doce estão sofrendo os impactos até hoje. Quem mora na região rural não tem água tratada e está em contato com uma água contaminada com metal pesado. Acreditamos que os dados apresentados publicamente pela empresa não correspondem efetivamente aos riscos que ela representa.”
Procurada, a Vale informou que não irá se manifestar sobre os protestos desta terça-feira.
*R7