Parte dos “21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra Mulheres e Meninas em Manaus”, campanha promovida pela Secretaria Municipal da Mulher, Assistência Social e Cidadania (Semasc), em parceria com o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e a Secretaria de Estado de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania do Amazonas (Sejusc), usuários do Centro de Convivência da Família e do Idoso Prefeito José Fernandes, na zona Leste, receberam, nesta quarta-feira (29/11), o espetáculo teatral “Eu Conto”.
Ao todo, setenta idosos, em uma plateia composta majoritariamente por mulheres atendidas pelo Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) do equipamento, acompanharam a história de seis personagens interpretadas pela atriz Isabela Catão. Ao fim da peça, todos participaram de uma roda de conversa sobre formas de violência, misoginia estrutural e vivências pessoais das usuárias.
“O centro de convivência é um espaço que trabalha a família como um todo, desde suas relações interpessoais até a sua convivência em comunidade, então é fundamental que a programação da campanha seja trazida para cá e que converse com nossas usuárias. Nosso trabalho aqui é garantir que todas saiam daqui cientes de seus direitos, independentemente da idade”, afirmou a coordenadora do equipamento, Anália Mota.
De acordo com a chefe de escritório do UNFPA em Manaus, Débora Rodrigues, é essencial que as atividades da campanha consigam atingir todo o público feminino atendido por equipamentos socioassistenciais da capital amazonense, sendo a população idosa um grupo prioritário no decorrer dos 21 dias de programação.
“Quando falamos de violência doméstica e familiar, também falamos de mulheres e pessoas idosas atingidas por essas formas de violência. Sensibilizá-las e informá-las sobre os canais de proteção disponíveis para a prevenção e o enfrentamento à violência é fundamental para o nosso trabalho”, explicou.
Moradora do entorno do Centro de Convivência da Família e do Idoso Prefeito José Fernandes e participante do grupo de idosos do serviço de convivência, a aposentada Alcíria Rolim, de 67 anos, destacou a identificação sentida ao assistir à peça, ressaltando, ainda, a importância da obra.
“Muitas de nós já passaram pela experiência de conhecer um homem e ser tratada como uma princesa só para, depois de certo tempo, começaram os abusos, então me vi em muitas das situações narradas ali. Foi um momento muito importante para mim, ainda que sou mãe, avó e bisavó de mulheres e meninas”, afirmou.
Quem também pontuou a relevância do espetáculo foi Maria Luiza Silveira, de 70 anos. “Eu simplesmente amei a peça. É muito importante que não nos calemos, que tenhamos ciência do que acontece e do que são violências não apenas para nos protegermos, mas para protegermos umas às outras, nossas filhas, netas, amigas e afins”, destacou.
Para a atriz Isabela Catão, a experiência de performar para um público composto por tantas mulheres idosas, cada uma com suas próprias histórias e memórias, acrescentou ao texto uma dose ímpar de identificação e intensidade. Segundo a atriz, a linguagem teatral tende a ser uma ferramenta poderosa na propagação de uma mensagem tão importante, destacando a escrita da dramaturga Priscila Conserva, responsável pela idealização da peça.
“A escrita da Priscila é grandiosa. Em todos os espaços que apresentamos esse trabalho existe uma identificação muito grande para além das histórias contadas, e é isso que define um bom teatro. É algo que carrega um poder de conscientização muito grande e que nos proporciona momentos muito emocionantes, como o de hoje”, concluiu.
Em Manaus, mulheres podem buscar apoio no Centro de Referência dos Direitos da Mulher (CRDM), estrutura municipal que promove atendimento humanizado às vítimas, por meio da assistência social e jurídica, acompanhamento psicológico, além de cursos de qualificação para a geração de renda, auxiliando mulheres no processo de emancipação de seus agressores. A unidade está localizada na rua Araxá, conjunto Duque de Caxias, Flores, zona Centro-Sul, e pode ser contatada a partir do telefone (92) 98842-2266.
Além do equipamento, a população ainda pode realizar denúncias por meio dos números 180, 0800 092 6644 ou 0800 092 1407.
Peça ‘Eu conto’
O espetáculo retrata, em formato de monólogo, histórias de mulheres amazônidas e, a partir da criação de vínculos diretos e sensíveis com o público, fomenta reflexões sobre práticas e comportamentos que geram violência contra mulheres e meninas, e sobre como enfrentá-los.
Em cena, a atriz Isabela Catão traz fragmentos das histórias de seis personagens que se manifestam no sonho de uma mulher. Por meio das visitas geradas pelo seu inconsciente, ela se questiona sobre a sua realidade e a relação com as suas vivências.
A ficha técnica composta por mulheres traz Priscila Conserva (dramaturgia), Karol Medeiros (direção), Viviane Palandi (provocadora cênica), Isabela Catão (elenco), Vanessa Kelly (produção), Laury Gitana e Karol Medeiros (cenografia), Cigride Aguiar, Isabela Catão e Karol Medeiros, no figurino, e Lu Maya, na iluminação.